sábado, 6 de outubro de 2018

Eleição 2018 ou Reboot em andamento

Sexta-feira, fim do expediente. No War Room de Recuperação de Planetas, o Consultor argumenta com o Superintendente sobre as ações a serem tomadas.

- Mas você tem certeza?
- Claro que tenho! Manda de uma vez.
- Sei não. Se eu mandar, não tem mais volta. E você sabe que Ele gosta de soluções mais sutis. E se a gente rodar o DMAIC?
- Não dá tempo...
- E que tal um Kaizen? Incluindo o pessoal lá de baixo no brainstorming?
- Talvez depois. A prioridade agora é estancar a sangria. Você viu o relatório, o planeta não aguenta mais muito tempo.

O Consultor clica no mouse, pula entre planilhas, abre o slide da apresentação.

- Aqui, ó. Ainda temos alguns anos. E se...?
- Não dá. Não podemos arriscar esse planeta. Ou essa população. É muito especial pra Ele.
- Mas...
- Olha, eu sei que não é um Comando agradável, mas é inevitável. A relação entre recursos e população é simples. Eles consomem o que é finito como se fosse renovável e o renovável mais rápido do que consegue se renovar. A camada de ozônio tá toda esburacada, a temperatura tá subindo, as calotas polares tão derretendo. Vários ecossistemas estão irremediavelmente condenados, várias espécies serão extintas em breve. Você viu a simulação das abelhas e todos os impactos.
- Sim, muito triste.
- Eles poluíram até o ar que respiram. Se não agirmos agora, teremos um evento cataclísmico de nível planetário. 
- Mas lá não tem anti-crash?
- Tem, mas é só pro planeta. Quero ver você ir explicar pra Ele que o hardware tá legal, mas extinguimos a raça humana sem querer.

Ficam em silêncio por alguns minutos. O Consultor continua rodando simulações na planilha.

- Mas e se a gente mexer no outro lado da equação pra ganhar tempo? Podíamos mandar um meteorito recheado de urânio, o suficiente pra substituir todas as fontes de energia sujas do planeta por anos. Ou podíamos mexer nessa placa tectônica aqui e fazer surgir outro continente. Ganharíamos um tempo com as migrações.
- Não dá pra confiar. Provavelmente algum país ia usar o urânio pra fazer bombas. E imagina a especulação imobiliária em um continente inteiro novo!
- Mas...
- Já mandamos pra eles soluções muito mais garantidas, com muito mais tempo e eles não resolveram. Mandamos profetas contando o futuro, aumentamos os índices de homossexualidade pra reduzir o ritmo de crescimento, liberamos avanços científicos muito além do nível evolucionário deles...demos até alguns exemplos do que vai vir se eles não mudarem o rumo!
- Sim, o El Niño, terremotos, tsunamis. Eu que codifiquei uma parte. 
- Eu lembro. E alguns deles até se mobilizaram, tentaram mudar as coisas, mas não chegou nem perto do que precisava. A maior parte deles continua seguindo a vida normalmente, como se não tivesse risco nenhum. E uma parte até combateu o que mandamos! Homofobia, terraplanismo, anti-vacina, fake news...

Mais uns minutos de silêncio. O Superintendente olha para o relógio. O Consultor suspira.

- Então não tem outro jeito mesmo?
- Não. Ou reduzimos o volume para uma quantidade que o planeta suporte, ou morrem todos e temos que começar de novo.
- Mas...Guerra?
- Não dá mais pra ser Epidemia. No nível de avanço da medicina deles, teria que ser algo muito forte pra ter o alcance que precisamos. E algo assim pode fugir do controle.
- Mas Guerra também pode fugir do controle. Aliás, se eu jogar um Conflito nos lugares mais óbvios, certeza que vira guerra mundial, com direito a armas nucleares.
- Tem razão. Precisamos de algo mais efetivo e menos explosivo.

Os dois se debruçam sobre a planilha. O Consultor roda simulação atrás de simulação.

- Faz assim: reduz a Empatia pra quase zero, aumenta a Ganância, o Medo e a Desconfiança. Com os níveis de Tolerância baixos como estão e os Sistemas de Desinformação implantados, devemos ter focos de guerra civil em vários países, além de exaurir os sistemas de distribuição. Com Fome e Guerra, em quanto tempo chegamos ao volume ideal?
- 5 anos. E mais 5 para recuperar o nível de produtividade atual. O planeta não aguenta tudo isso.
- Vou falar com Ele para ver se liberamos algum sistema de governo mais avançado para acelerar a recuperação. Ou quem sabe até outra intervenção direta Dele. Como ficaria?
- Daí cabe na previsão, recuperação em 1 a 2 anos. Você alinha com Ele? 
- Alinho, pode mandar.

O Consultor preenche o formulário na intranet e envia. O Superintendente pergunta:

- Quando entra em Produção?
- Vai rodar no batch noturno e sobe na segunda-feira.
- Certo. Começamos a monitoria na própria segunda, então. Algum foco específico de preocupação no primeiro momento?
- Deixa eu checar no simulador...a Síria, óbvio...
- Esse Ele já tá ciente.
- Aumento de tensão nas Coréias...
- Já está na pauta fixa.
- Trump brigando com mais dois países árabes...
- Ok, esperado.
- Ah, aqui tem um novo! Dia seguinte do 1º turno das eleições no Brasil! 
- Hummm...essa é novidade, vou avisar pra Ele. Até porque, segundo o simulador, o bicho vai pegar por lá, independente do resultado...