quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Capítulo 6

Longdon estava estarrecido pela passividade dos nativos frente às adversidades. Estavam presos no trânsito há aproximadamente duas horas e todos os motoristas continuavam em seus carros, como se fosse um acontecimento corriqueiro! Alguns ouviam música, outros abriam jornais, muitos falavam ao celular, uns poucos buzinavam de vez em quando, mas Longdon não viu em ninguém aquela chispa de indignação à la Michael Douglas em ‘Um Dia de Fúria’. Pareciam todos cansados e irritados, mas servilmente conformados com sua sorte.

Enquanto ruminava essas reflexões profundas, nosso herói olhava esporadicamente pelo vidro de trás, procurando um sinal de seus perseguidores. A saída encontrava-se a menos de 300 metros quando um caminhão mudou de faixa e ele viu o possante Audi prateado sete carros atrás na fila deles. Cutucou o homenzinho, mas ele estava ocupado negociando a compra de um pacote de bijus, dois Sulflairs e dois sucos Tampico. Finalmente ele se virou, bem a tempo de ver o Audi entrando atrás de um Uno cinza-chumbo na faixa do meio.

A faixa do Audi estava andando melhor e a distância caíra para apenas 3 carros. O inimigo estava se aproximando, mas, felizmente, a saída estava perto. Só mais 50 metros e estariam livres daquela imensidão de carros! Depois de tanto tempo, eles finalmente iriam engatar a terceira marcha! Só mais 10 metros...5 metros...

Porém, para desespero de Longdon, o Monza nem sequer deu seta para a direita. Ele olhou desolado do imperturbável motorista para a saída escancarada. Como ele podia deixar passar a chance de sair daquele inferno? O homenzinho não disse nada, apenas apontou para o Audi, agora apenas um carro atrás deles. Mas é claro, pensou o professor, clareando as idéias. A rua estaria livre para nós, mas também para nossos perseguidores! Em menos de um minuto eles teriam nos alcançado! Ainda bem que o motorista não havia sucumbido ao efeito idiotizante do trânsito como ele!

No entanto, persistia o perigo de serem alcançados, pois a faixa do meio parecia estar andando muito mais. Para evitar uma maior aproximação, o homenzinho fechou o Uno cinza-chumbo, que só conseguiu evitar a colisão por estar a menos de 10Km/H. O Audi contra-atacou pulando para a faixa da direita, que começara a andar. Não havia mais nenhum carro entre eles e, subitamente, a luz de freio do carro na frente do Monza acendeu. Longdon olhou para o lado e viu que o negão havia sacado seu revólver.

---------------------------

- Acabou a brincadeira, porra! – gritou o negão.

Já estava estendendo o braço para fora, com o revólver apontado para o gringo, quando uma sirene estridente se fez ouvir ao longe. Uma veraneio preta da ROTA vinha em desabalada carreira, com um policial empunhando uma metralhadora na janela. Os carros amedrontados iam abrindo caminho como podiam em meio ao trânsito estacionado e em pouco tempo, uma nova faixa brotou milagrosamente na frente dos representantes da lei e da ordem. Assim que viu a viatura no retrovisor, o negão recolheu a arma assustado.

- Ai, caralho! Lá vem os homi e eu aqui nesse carrão! Você e suas idéias de girico, china! Agora pula pra cá, quem vai segurar o rojão é você!

O coreano trocou de lugar com o negão – não sem dificuldade, já que o Audi era um modelo esportivo – e, rapidamente, pegou a saída à direita, acelerando pela rua esburacada. Ao fundo, a sirene foi ficando cada vez mais distante até que foi completamente afogada pelos ruídos do trânsito. Haviam perdido contato com a presa, mas no momento o mais importante era evitar as autoridades.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Capítulo 5

O centro de São Paulo na hora do rush produz uma singular mistura de odores, visões e ruídos. Há carros que fecham cruzamentos e são brindados por outros carros com uma orquestra atordoante de buzinas. Há milhares de pessoas que se deslocam de seus trabalhos para a escola ou para casa sem ao menos olhar para o lado. Há vendedores ambulantes que tentam chamar a atenção dos passantes para suas mídias e óculos piratas. Há funcionários zelosos de toda espécie de estabelecimento comercial que despejam os sacos de lixo do patrão em pleno meio-fio. Há barraquinhas de churrasco circundadas de pequenas multidões, enquanto, em algum lugar, um miado angustiado chora a perda de um ente querido. Há travestis e prostitutas que saem mais cedo em busca dos clientes mais ávidos, madrugadores ou incontinentes. E toda essa cacofonia ainda é cortada de tempos em tempos por alguma sirene estridente, que deixa a respiração suspensa por um segundo e some sem deixar rastros. Talvez por isso ninguém tenha notado o beco sórdido ao lado de uma padoca, onde dois coreanos discutem enquanto arrastam um corpo para trás de uma lixeira.

- Porque você enfiou a faca aí? Agora a camisa tem um furo! E tá toda manchada de sangue! Por que não torceu o pescoço dele?

- Agora não adianta discutir! Além disso, a gente não tem muito tempo e olha o tamanho dessa cabeça! Ia demorar uns três dias pra torcer até o fim!

- Tá, deixa pra lá...vamos dar o fora rápido!

- Mas será que ninguém vai notar um cadáver de um cearense pelado aqui? Não é melhor esconder?

- Onde?

- Ali, entre o mendigo que morreu de frio e o drogado que morreu de overdose.

Os dois unem esforços para arrastar o mirrado corpo até o fundo do beco e despejam-no no meio dos outros corpos. Rapidamente, deixam-no apenas de cueca, levando suas roupas, seu rolex falseta, seus passes de ônibus e seu crachá.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Capítulo 4

Ajoelhado sobre o banco, agarrado na fitinha do Senhor do Bonfim e balbuciando algo que mais parecia uma prece para Xangô, Longdon assistiu estarrecido à manobra espetacular de seu pequeno motorista. O homenzinho havia desviado do Audi no último instante, aproveitando a brecha na frente de um caminhão-tanque da Petrobrás que demorou para acelerar e já ligava a seta para entrar na pista local. Unbelievable! Seus amigos de Harvard nunca acreditariam se ele contasse!

Alheio aos devaneios de seu passageiro, o homenzinho seguia à velocidade máxima pela via de acesso à pista local da Marginal Tietê – o que equivalia a 70 Km/H. À sua frente, a pista local apresentava um panorama parecido com o da pista expressa, mais adequado a um estacionamento do que a uma rodovia.

A fila da esquerda andou e ele embicou o carro antes de um velhinho meio cego em um Palio verde. Andou mais alguns metros e o Monza foi tragado pelo tráfego congestionado. Não havia mais saída possível pelos próximos 500 metros e, pelo andar da carruagem, levaria mais ou menos uma hora para percorrer essa distância.

--------------------

Um pouco atrás, o Escort e a Caravan protagonizavam um engavetamento de cinema, com perda total para as duas ximbicas. Curiosamente, apenas trincou a lanterna esquerda do Audi, embora a reação do seu dono sugerisse um dano muito maior. O boyzinho chutava e esmurrava o que havia sobrado do Escort quando um coreano saiu da Caravan. Com toda calma do mundo, sacou uma pistola, colocou o silenciador e deu um tiro certeiro no meio da testa do rapaz.

Assim que ele caiu, um negão de 2 metros de altura saiu do Escort com cara de assustado. Olhou em volta, viu que ninguém dava a mínima para o corpo estendido no chão e desanuviou o semblante.

- China do caralho, precisava ficar meia hora pondo o silenciador? Você só me fode, mesmo!

Enquanto o negão trocava o pneu do Audi, o oriental caminhou serenamente até o cadáver e extraiu as chaves do carro do bolso do boy. Viu que o celular do cara era um Nokia último modelo, com bluetooth, câmera, GPS e escova de dentes embutida e o recolheu também. Já se encaminhava para o banco do motorista quando o negão arrancou a chave da sua mão dizendo:

- Quem dirige sou eu! Você já fez muita merda hoje.

- Mas você também bateu sua ximbica, honorável colega.

- É, mas você bateu atrás. Nunca ouviu que quem bate atrás é sempre culpado?

Não tendo como discutir essa insofismável verdade milenar e vendo que a CET se aproximava do local do sinistro, o coreano se acomodou no banco do passageiro mesmo. Deu sorte, pois no porta-luvas encontrou um iPod de 800Gb de memória com visor de titânio cromado e fones sem fio, que embolsou prontamente.

O Audi saiu cantando o pneu, despertando a inveja de dez a cada dez motoristas ao redor.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Capítulo 3

Dentro de um quarto fétido de uma pensão meia-estrela no centro da cidade, uma forma se remexia sofregamente em cima do colchão ralo e cheio de pulgas. Subitamente, o alarme do despertador cortou o silêncio daquela tarde de quarta-feira, só para ser abafado pelo grito de terror típico do despertar no meio de um pesadelo terrível. Com o suor escorrendo pela face, a forma desligou o alarme e sentou-se na beirada da cama para recompor os pensamentos.

Tivera o mesmo pesadelo de sempre. Estava no mesmo corredor estreito, usando o mesmo uniforme de segurança, com o mesmo pavor no coração de todas as noites, quando de repente uma avalanche de pessoas veio em sua direção. Ele já esperava, mas nem por isso o terror era menor. Era mais gente do que ele sabia contar – matemática nunca fora o seu forte – mas não era preciso ser nenhum Einstein para perceber que era mais gente do que caberia naquele corredor. Ele se virara para fugir, mas fora engolfado e arrastado pela multidão corredor afora. Já estava ficando sem ar, esticando a mão por sobre aquele mar humano em busca de uma tábua de salvação quando, finalmente, o relógio o despertou.

Tinha se cansado daquela vida, de não conseguir dormir direito à noite, de acordar quase sufocado, banhado em suor e com um grito entalado na garganta. As duas pensões anteriores em que ele se arrumara o tinham posto na rua depois da segunda madrugada de gritos apavorantes.

Felizmente, conseguira trocar seu posto de segurança diurno pelo de vigia noturno. Ainda tinha o pesadelo, mas com menos freqüência e cada vez vinha menos gente para afogá-lo no corredor estreito. É, apesar do risco e da confusão de dormir de dia para trabalhar à noite, tinha feito um bom negócio.

Depois de se aprontar, saiu para tomar o desjejum. Uma das coisas mais complicadas tinha sido adequar a alimentação ao seu novo horário. No primeiro dia, atacou um PF na padaria perto da pensão, mas seu estômago não se deu bem com o ovo frito e o bife sola-de-sapato logo ao acordar. Resolveu então fingir que o dia continuava igual, mesmo que estivesse escuro no café da manhã e amanhecendo no jantar. Sua referência seria sempre a hora de acordar. Agora, chegava na padoca às 20hs e já tinha um pingado e um pão na chapa esperando por ele no balcão. E quando saía do serviço, às 6 da manhã, encarava um ovo cozido e umas coxinhas com o guaraná Convenção. Sentia falta do arroz, feijão e farinha diário, mas não se pode ter tudo na vida. Todo dia, a mesma padoca. Todo dia, o mesmo banco no balcão. Todo dia, a mesma tia atendendo. Definitivamente, a vida vinha melhorando.

Estava no semáforo ao lado da padoca quando foi agarrado por dois homens e arrastado para um beco sórdido. Antes que pudesse esboçar qualquer reação, sentiu o metal gelado penetrando entre suas costelas e desmaiou, sem nem ao menos entender por que fora esfaqueado.

Imagina se fosse no Brasil

Na Allsvenskan, a 1ª divisão sueca de futebol profissional, o goleiro do IFK Gotemburgo - um dos candidatos ao título desse ano - foi flagrado diminuindo a largura do gol durante os jogos do campeonato ao empurrar as traves para dentro 10 cm de cada lado (veja aqui). O juiz simplesmente empurrou as traves para a posição correta novamente e mandou o jogo seguir. Entrevistado no intervalo, ele confessou ter feito isso várias vezes antes e que nunca havia sido descoberto. Seus companheiros de time não só sabiam da armação, como também faziam o oposto com o gol dos adversários para aumentá-lo. Detalhe: faltam seis rodadas para o fim do campeonato e o IFK está empatado em pontos na liderança com o AIK, liderando no saldo de gols.

Depois brasileiro é que é malandro, desonesto e gosta de levar vantagem em tudo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Capítulo 2

Em Cumbica, depois de duas horas para passar pela alfândega por causa da greve da Polícia Federal, Rupert Longdon encontrou seu contato no saguão do aeroporto. Era um homem baixo, usando um bigode com cara de falso e segurando uma plaquinha onde se lia Rupert Longdong. Só faltava essa, meu empregador é um piadista, pensou. Bom, podia ser pior, se fosse algo do tipo...well, actually, não tinha como ser pior.

Sem qualquer saudação, o caricatural homenzinho conduziu-o até um Monza 89. Vendo o nariz torcido de seu passageiro, garantiu que o uso desse carro em particular era imprescindível por razões legais – e não mentia, já que era dia do rodízio do seu carro e aquele era o da sogra que ele tinha pego emprestado.

Percorreram lépidos a Ayrton Senna, porém, ao chegar à Marginal Tietê, o trânsito da hora do rush de São Paulo atingiu-os como uma bofetada. O ar estava quente e abafado e o zumbido dos motoboys passando a alguns milímetros do espelhinho era praticamente ininterrupto. Sentindo os ovos e a salada de repolho da comida do avião se encontrarem no seu estômago, Longdon tentou sondar o motorista sobre detalhes do caso. O homenzinho não era lá muito expansivo, mas disse que as instruções viriam diretamente do chefe na hora oportuna. Para gastar o tempo, nosso herói passou a examinar os detalhes do veículo. Notou que pendurado no espelhinho havia uma fita do Nosso Senhor do Bonfim e tentou puxar papo com o hermético motorista.

- Bahia, hein? I´ve been there...belas cidades, lindas mulheres...muita música, sol forte, praia...diz aí, por que diabos você saiu daquele paraíso pra vir pra essa metrópole fedida?

O homenzinho não saiu do seu mutismo e continuou olhando fixamente para a Caravan laranja com vidros 150% filmados na sua frente.

Rupert Longdon hesitou por uns minutos, mas retornou à carga.

- Wait, don´t tell me...essa fitinha é presente de alguém que foi à Bahia e trouxe pra você, né? Você sabia que essa mistura do catolicismo com o candomblé é um símbolo do atraso cultural em que vocês vivem? E olha que de símbolo eu entendo!

Os olhos do homenzinho se desviaram rapidamente para o espelho. Um Escort XR3 amarelo rebaixado reduzia a velocidade atrás deles. Longdon entendeu o movimento das pupilas como uma reação negativa e tentou uma cartada final.

- Já sei! Você é...é...what´s it called? Chicleteiro! Essa foi a única lembrança do carnaval na Bahia que você conseguiu comprar depois de passar seis noites tomando vodka com Fanta Uva e tentando trocar uma noite de amor com você por um...um...what´s that word again? Oh, yes...abadá!

De repente, o Monza saiu cantando pneu e enveredou pelo acostamento, com a Caravan e o Escort em sua caça. Longdon, que não tinha notado os perseguidores, continuava com suas suposições sobre as raízes da fitinha, misturando Jorge Amado, ACM e Vampeta numa teoria ininteligível de fazer inveja a Caetano Veloso. Ou não. Só quando o Escort bateu no pára-choque do Monza é que ele se tocou do que acontecia.

Cem metros à frente, um Audi A36 prata rebaixado, com banco de couro e rodas de liga leve estava parado no acostamento com um pneu furado. Seu dono, que depois de chamar a seguradora usava o celular para passar trotes para Honduras, só percebeu a perigosa aproximação quando havia pouco a se fazer. Instintivamente, protegeu com a mão os olhos para não ver a porrada, mas não conseguiu evitar ouvir a explosão.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Capítulo 1

Eram 3 horas da manhã em Boston, Massachussets. Rupert Longdon, professor de simbologia e iconografia da Universidade de Harvard, dormia, roncava e babava no travesseiro em seu apartamento. Sonhava com sua última aventura estapafúrdia na Europa, cheia de reviravoltas surpreendentes, onde tivera que seguir pistas deixadas alguns séculos atrás, desvendar mistérios dos maiores gênios da humanidade e frustrar os planos de uma organização extinta. Mais do que isso, sonhava com a doce Sofia, quando a campainha estridente do telefone o arrancou violentamente dos braços de Morfeu.

Do outro lado da linha, uma voz gutural tentava se comunicar num inglês macarrônico com sotaque paulista. Suspirando profundamente e agradecendo aos céus por ser fluente em português, assim como em alemão, francês, italiano, latim, javanês e fenício, Longdon disse:

- I’m sorry, sir, mas aqui não é do consulado brasileiro!

- Mr. Longdon, não desligue! – insiste o inoportuno interlocutor – Tenho certeza que o senhor irá se interessar pelas notícias que eu trago.

Humm...o interlocutor o conhecia. Era preciso ganhar tempo.

- Você vai dizer que a Gisele Bündchen quer me conhecer?

- Não, mas...

- Que vou ser homenageado no desfile da Mangueira desse ano?

- Acho que não...

- Que o São Paulo Futebol Clube vai me contratar pra ser centroavante?

- Nã...

- Então você não tem nenhuma informação que me interesse.

- Mr. Longdon, você não entende, nós vamos estar precisando urgentemente da sua presença para estarmos resolvendo esse mistério...

- Que mistério? Tou com a agenda lotada, meu amigo. Não posso perder tempo com misteriozinho de terceiro mundo...

- Mas esse é dos bons! Tem implicações políticas, ideológicas, econômicas e futebolísticas! Quando resolvê-lo, o senhor alcançará a glória imorredoura!

- Ainda não me convenceu. Faz de conta que eu quero mudar de operadora. Como você vai me fazer ficar?

Alguns minutos de tensa negociação depois, Rupert Longdon aceitou viajar ao Brasil sem compromisso. Se aceitasse colaborar, receberia U$1 milhão de luvas, mais U$250 mil de direito de imagem, vale refeição e celular da empresa. Além disso, caso o mistério fosse solucionado a contento, teria direito a 10% de quaisquer propinas envolvidas e uma entrada VIP-ANUAL para o Café Photo. Assim, pegou sua mala, seu Guia 4 Rodas de 1994, seu passaporte e se encaminhou ao Aeroporto Internacional de Logan.

domingo, 20 de setembro de 2009

Rodada especial

São-paulinos e palmeirenses vibrando com gols do Roger, são-paulinos torcendo pelo Kléber Gladiador e palmeirenses pelo Marcelinho Carioca. Tem coisas que só o Brasileirão de pontos corridos pode proporcionar.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Prólogo

Ladeira Porto Geral.

4h28

Alheia ao agito da vida noturna do centro da cidade, a região da rua 25 de Março ressona tranquilamente, curtindo o sossego do final da madrugada. O único movimento visível vem de trás de uma caçamba, onde um gato vadio se espreguiça languidamente e sai à caça da sua refeição da madrugada.

Sob a tênue iluminação dos postes, dois boêmios surgem cambaleando dos lados da Praça da Sé. Aparentando um teor alcoólico considerável, os companheiros percorrem um breve trecho da 25 entre tropeções e risadas, parando ao lado de um poste no sopé da Ladeira Porto Geral. Pressentindo o perigo, o intrépido felino desiste de sua empreitada e busca refúgio no beco mais próximo.

Conduzido por seu colega, o mais alto dos boêmios se senta na soleira de uma loja. Em seu rosto, um esgar, misto de dor e medo. Lentamente, como se lutasse contra o sono, recosta a cabeça no batente da porta e fecha os olhos.

-----------------------------

8h23

Seu Geraldo chega à Ladeira Porto Geral para abrir sua loja de fantasias e encontra um bêbado encostado na porta.

- Mas que porre, hein, amigo? Não acordou nem com as marteladas dos barraqueiros aí da frente?

O bêbado continua lá, apagado.

- Bom, agora tá na hora de levantar que eu tenho que abrir minha loja.

E o bêbado quieto igual morto. Seu Geraldo dá uma cutucada no ombro dele.

- Moço! Sai daí que eu preciso trabalhar!

A situação já começa a chamar a atenção dos passantes. Seu Geraldo sacode o bêbado, que cai para frente e revela uma faca enterrada até o cabo em suas costas.

A cena que se segue parece um borrão na memória do Seu Geraldo. Ele lembra de uma mulher gritando, das sirenes da polícia e da multidão em volta da loja, mas quase nenhum detalhe.
A perícia determinou que a morte se deu entre 4 e 5 da manhã. Na entrevista para o jornal, o detetive disse que o crime tinha sido minuciosamente planejado e bem executado. Nenhuma câmera de segurança na região, nenhuma testemunha, nenhuma pista do culpado. Nos bares da região, ninguém reconheceu a foto do morto. Quando o crime foi descoberto, o assassino já estava bem longe dali.

O Código da Vinte

Uns anos atrás eu comecei uma sátira do livro do Dan Brown ambientada em São Paulo, mais especificamente na região da Rua 25 de Março. Até agora, a história já tem 15 capítulos, mas ainda falta muito chão para que Rupert Longdon consiga decifrar o mistério.

Vou publicar o que já escrevi aqui, em formato de folhetim, um capítulo por semana. Ou talvez antes.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Como queríamos demonstrar

Lembra dos tipos de goleiros? E da pegada? Pois não é que o Marcos teve seu dia de azar, tomou um gol de pinball e comprovou ambas as teorias?

Evidência 1: um domingo de sol em Salvador, quando uma falta na intermediária é alçada na pequena área do Palmeiras. Marcos tenta socá-la para longe, mas a bola bate no jogador do Vitória e entra no gol alviverde.
Evidência 2: Manual do Goleiro, onde consta que, em CNTP, só deve ser socada a bola que estiver fora do alcance de uma defesa segura. Segundo ele, o soco também é aceitável em jogos com muita chuva ou quando o goleiro não estiver seguro com a sua pegada.
Evidência 3: a cara de nádega do Marcos após a conclusão do lance.

Conclusão: o Marcos, por ser um goleiro instintivo, faz as defesas de acordo com seu feeling. Claro que o santo verde sabe e treina as defesas 'corretas' - por exemplo, não socar ou rebater uma bola para o meio da área - mas quando a porca torce o rabo, ele deixa que a Força conduza seus movimentos. Com a campanha subliminar sórdida de desvalorização a que a pegada vem sendo submetida (muito pela falta de conhecimento específico sobre goleiros dos comentaristas e formadores de opinião), a Força, que se assusta fácil, acaba optando por jogar a bola para longe o mais rápido possível ao invés de tentar segurá-la para armar um contra-ataque.

CQD.

---------------------------------

Não é sempre que um time consegue três vitórias na mesma rodada do Brasileirão. Esse é um fim de semana para o São Paulo comemorar bastante.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Lama na pista

As graves acusações de Nelson Piquet Jr. conseguiram sujar ainda mais a reputação da Fórmula 1, que já não prima exatamente pela ética e a esportividade. Só para ficar nos exemplos mais emblemáticos: lembro do Prost tirando o Senna da pista para ser campeão, da FIA tirando o título do Senna depois dele ganhar a corrida após ser tirado da pista pelo Prost, do Senna tirando o Prost da pista para ser campeão, do Schumacher tirando o Hill da pista para ser campeão, do Rubinho abrindo para o Schumacher passar e da espionagem da McLaren em cima da Ferrari. Aliás, comum esse negócio de tirar o outro da pista para ser campeão, não?

Alguns comentários avulsos sobre essa história:
- O Nelsinho pode dizer que foi pressionado, que estava com a cabeça frágil, mas denunciar depois de aceitar ser cúmplice me parece de um oportunismo à la Roberto Jefferson.
- A FIA garantiu imunidade ao piloto por ter aberto o jogo. Alguém aí falou em delação premiada?
- Há alguma prova além do dossiê bombástico que ele entregou à FIA? Se não, fica parecendo mesmo que ele arquitetou toda a manobra e depois tentou chantagear a Renault.