sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Status do Brasileirão 2009

Depois da 32ª rodada, parece que o Campeonato Brasileiro virou uma briga caseira entre o São Paulo e Muricy Ramalho para ver quem é o primeiro tetra-campeão seguido. Claro que 6 rodadas é uma vida, mas acho que agora começou o sprint final do campeonato.

Mas o pior de tudo é o dilema do corinthiano nesse domingo. Se perde, ajuda o Palmeiras. Se ganha, ajuda o São Paulo. E agora, José?

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Atualização pós-clássico
E não é que o Corinthians arrumou uma solução salomônica? Um empate que zera a gordura de um e tira a liderança do outro. Missão cumprida: nenhum dos torcedores rivais ficou satisfeito com o resultado.

Aliás, perdemos outra chance de ter um alinhamento cósmico na tabela. Se o Palmeiras perdesse do Corinthians e o Inter ganhasse do combalido Botafogo, teríamos uma escadinha do 1º, com 58, ao 5º, com 54.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Capítulo 11

Estava de volta ao corredor estreito, afogado pela multidão, sem ter para onde ir. Sentia algo tampando seu nariz e teve certeza de que morreria em pouco tempo, quando sentiu uma mão o agarrando pelo ombro e o sacudindo.

- Mano, cê tá muuuito louco, hein? Tá tentando cheirar o saco de lixo! Sério, velho, nunca pensei que fosse achar alguém num naipe pior que o meu, mas cê bate todos os recordes!

Olhou em volta lentamente, procurando o corredor, as vitrines, a multidão e não encontrou nada. Estava em um beco sórdido, só de cueca, deitado de bruços em cima dos sacos de lixo, entre um mendigo dormindo e um drogado sorridente. Lembrou de ter parado no semáforo quando estava indo para a padoca. Lembrou de ser agarrado por dois homens e de ver que um deles era japa. E lembrou também de...

Esticou a mão para trás, tentando alcançar o local da facada. Sentiu uma pontada de dor, mas não encontrou nem a ferida nem sentiu sangue escorrendo. Para falar a verdade, a ponta dos seus dedos estava congelada, por isso era difícil descobrir qualquer coisa pelo tato. Mas talvez não fosse uma ferida fatal, no fim das contas!

Não tinha idéia de quanto tempo ficara desacordado, apenas sentia um frio miserável e uma fome dos infernos. Seu estômago roncava tão alto que ecoava pelo beco sórdido. Ao seu lado, o cara sorridente falou:

- Ih, ó o cara! Mó larica, hein? Chega aí, eu tenho uns docinhos pra essas horas...

Rachou com o drogado uma pipoca doce Aritana e, lentamente, sentiu que as forças retornavam, embora o frio persistisse. Do outro lado, o mendigo acordou, tomou um trago de uma garrafa num saco de papelão e dormiu de novo. Sua mão segurava a garrafa como um torniquete, mas de debaixo de seu braço escorregou um pacote com seus pertences.

Era um homem honesto, mas nessa hora descobriu que seus escrúpulos não sobreviviam a temperaturas muito frias. Assim, murmurando desculpas para enganar a própria consciência (um ‘é só um empréstimo’ e um ‘depois eu devolvo’, para ser exato), pegou o paletó que estava por cima do pacote e o vestiu. O cheiro não era tão ruim, principalmente comparado ao lixo da padoca, mas o mais importante é que ele era forrado por dentro.

Bom, a fome e o frio já não eram problema, mas ele ainda precisava chegar ao hospital o mais rápido possível. Como que para ilustrar esse pensamento, um espirro lhe subiu do fundo da alma e ecoou pelo beco sórdido. Com a sabedoria de quem vivia nas ruas, seu comunicativo novo amigo diagnosticou, ainda mastigando os últimos piruás:

- Rapá, isso é gripe suína! Eu sei por que um amigo meu teve também! Ele passou umas duas semana dando esses espirro louco e, de repente, amanheceu morto. Com as mãozinha pra frente, assim, que nem um leitão assado. Cê precisa ir no médico logo!

- E como é que eu vou no médico assim? Sem calça e sem um puto no bolso?

- Olha, quando eu acho que tou doente, eu procuro algum acidente de carro ou atropelamento e deito do lado das vítimas. Às vezes a ambulância me leva junto.

Não era má idéia. Levantou-se, agradeceu ao drogado e encaminhou-se para a rua principal. Para sua sorte, viu que um motoqueiro tinha sido atropelado por um ônibus e estava esparramado no chão. A sirene de uma ambulância já soava nas redondezas.

Não havia tempo a perder! Precisava chegar antes da ambulância e deitar no chão sem que os outros percebessem. O som da sirene estava mais alto, mas ainda dava tempo. Seus olhos ainda não tinham se habituado à claridade, quando ele desatou a correr para o local do acidente.

De repente, ao som da sirene se juntou o de uma buzina. Ele mal havia dado dois passos pela rua quando foi atropelado em cheio pela ambulância e caiu desacordado ao lado do motoqueiro.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Diário da Lui - 27/10

Hoje eu pus um babador da mesma cor do babador do papai. Só que o do papai é esquisito. É fino e comprido, vai até a cintura dele. O papai deve ter muita mira para babar sempre no lugar certo.

Ah, hoje eu também aprendi a colocar e tirar a chupeta da boca! A mamãe ficou maior feliz! Tirar é muito fácil e eu já sei faz tempo, é só enganchar o dedo na argola da chupeta e puxar. Colocar também não é difícil, só tem que mirar bem a boca, esticar o bico e empurrar a chupeta com a mão.

Não sei por que a mamãe e o papai reclamam tanto de ter que colocar minha chupeta de volta de noite. É tão fácil!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Habemus Campeonatum

O Palmeiras foi muito gente fina e resolveu esperar os demais times chegarem para irem todos juntos até o final. Atlético-MG, Inter e São Paulo, gentlemen que são, também se quedaram à espera de Flamengo e Cruzeiro. Só o Goiás deu uma de furão e ficou pelo caminho.

Agora, arrependido mesmo deve estar o Mano Menezes, que jogou a toalha na 18ª rodada do Brasileiro. Na época, o Corinthians estava três pontos na frente do Cruzeiro...

P.S. - Por muito pouco não tivemos outro alinhamento cósmico na tabela de classificação. Caso o Inter ou o SPFC tivessem empatado e o Goiás tivesse ganho, teríamos uma escadinha de um ponto do 1º ao 7º lugar. Se bem que dessa vez, foi melhor não ter acontecido. Vai que a Globo usa isso de pretexto para a volta imediata dos mata-matas.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Palmeiras Jaiminho

Todo ano, quando é divulgada a tabela do Brasileirão, eu faço uma mega-ultra-planilha no Excel com os jogos e uma classificação que atualiza automaticamente, permitindo simular os resultados. É uma coisa simples, rápida e profundamente desestressante. Mas eu divago.

A questão é que eu fiz uma série de simulações na minha mega-ultra-planilha e descobri o por quê do Palmeiras estar desinteressado dos pontos ultimamente: é para evitar a fadiga. Sim, pois se todos os seus adversários diretos perderam todos os seus jogos (menos os contra ele, Palmeiras) e empatarem nos confrontos diretos, o título vai para o Palestra Itália mesmo que o alvi-verde não faça mais nenhum gol! Claro que é possível, você não viu as últimas rodadas do campeonato?

A nação alviverde agora deve focar suas energias em secar os seus concorrentes e torcer por um empate toda vez que dois deles se enfrentarem. Algum desavisado pode até dizer que cansa mais sofrer em nove jogos do que em um só, mas eu lhe asseguro, caro desavisado, que isso é muito menos estressante que torcer para que o Obina erre a trave ou o Edmilson ganhe do Petkovic na corrida. Com toda certeza.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Capítulo 10

Ao checar a carteira, o homenzinho notou que só tinha mais um bilhete de metrô e se encaminhou à bilheteria para adquirir outro. De repente, ele parou, com um leve tremor no bigode e uma expressão anuviada no rosto. Longdon quase tropeçara em seu diminuto guia e, intrigado, procurou a causa dessa inesperada demonstração de emoção. Examinou com atenção a vending machine de livros de bolso bem na sua frente e, com sua perspicácia habitual, notou que o homenzinho parecia olhar fixamente para um livro chamado “Você é do Tamanho dos Seus Sonhos”. Realmente, o título era insensível e de extremo mau gosto. After all, pensou, quem tem mais direito aos grandes sonhos que os pequenos homens?

O homenzinho, no entanto, estava mais preocupado com o negão na fila da bilheteria, que conseguira ver pelo reflexo do vidro da vending machine. Pegou Longdon pelo braço e o arrastou em direção às catracas, tentando se misturar à massa. Chegando lá, empurrou o professor catraca adentro e passaram ambos com um só bilhete sem maiores incidentes, embora Longdon tenha ficado ligeiramente contrariado por ter sido ele a passar na frente.

O pequeno guia pegou novamente Longdon pelo braço e o conduziu para dentro da multidão. Estavam quase chegando à escada rolante que os levaria à plataforma de embarque quando ouviram alguém gritando “Ó lá os cara, china!”. Longdon olhou para trás e viu o negão apontando diretamente para eles. Aterrorizado, olhou para baixo e viu o trem parado na plataforma, desembarcando milhares de passageiros. Se pudessem pegá-lo, talvez conseguissem escapar!

Porém, na sua frente, uma multidão preenchia completamente as escadas, tanto a rolante quanto a normal, impedindo a passagem rápida. Se eles seguissem a fila, com certeza não conseguiriam embarcar. Seus perseguidores haviam passado da catraca e se aproximavam cada vez mais. O negão abria caminho no meio da multidão como um tanque. Não parecia haver solução possível. O cérebro de Longdon maquinava furiosamente, mas até o momento, sua melhor idéia tinha sido gritar “Piques!” e encostar na parede. Já estava a ponto de colocá-la em prática quando o homenzinho pegou sua mala, colocou-a no corrimão e pulou em cima, acenando para que ele o seguisse.

Os dois escorregaram corrimão abaixo como se fosse um tobogã e aterrissaram ao lado da lata de lixo. Ainda meio atordoado, Longdon viu que as pessoas na plataforma começavam a entrar no vagão. Olhando para cima, viu que seus perseguidores tinham acabado de chegar no alto da escada e se preparavam para escorregar também. Longdon pegou sua mala e correu atrás do homenzinho em direção ao trem.

Estavam no meio do caminho quando viram as portas começando a se fechar. Atrás deles, um barulho metálico indicava que seus perseguidores já haviam escorregado e derrubado a mesma lata de lixo na aterrissagem. Sentindo uma onda de pânico, Longdon arremessou sua mala em direção à porta, na esperança de travá-la aberta como nos filmes do Jet Li que ele tanto gostava. Contudo, um ligeiro erro de cálculo fez com que ela se esborrachasse no chão do vagão, se abrindo e espalhando suas roupas, livros e objetos pessoais em cima dos outros passageiros.

Os dois entraram no trem logo depois da mala, esbaforidos. As portas estavam quase fechadas e seus perseguidores ainda estavam alguns metros atrás. Longdon estava com o coração na boca, mas exultava. Tinham conseguido! E quando ele pensava finalmente estar em segurança, o negão deu um carrinho em direção à porta e conseguiu travá-la com o pé! Deixando de lado sua dignidade de professor de Harvard, Longdon se agachou e, em um esforço sobre-humano, tentou empurrar aquele Nike Shox tamanho 46 de volta pela fresta da porta.

Foi uma luta hercúlea, Longdon contra o pé do negão. Pela fresta, em meio às gotas de suor que brotavam profusamente em seu rosto, ele viu seu inimigo estendendo a mão para dentro do casaco em busca da arma. A esperança começava a abandonar o pacato professor, quando o homenzinho pegou uma saboneteira do Boston Red Sox que havia caído da mala e a atirou porta afora, acertando a testa do negão. Inspirado por tão certeiro arremesso, que o lembrou de seus gloriosos dias de quinto reserva no Harvard Baseball Team, nosso herói empurrou o agora flácido pé para fora e desabou de costas para a porta, sem fôlego.

Lentamente, o trem começou a acelerar, deixando para trás a estação Tietê do metrô.

domingo, 18 de outubro de 2009

Diário da Lui - 18/10

Hoje, a mamãe veio me dizer que eu ia conhecer a prima Julia, que morava lá no Longe. Achei que a mamãe estava ficando meio doida. Eu conheço a prima Julia que mora lá no Longe desde o dia em que eu nasci! Ela é bochechuda, tem olhos pretos igual às listras do Tigrão, um monte de cabelo e vive sorrindo.

Só que essa era diferente: loira, cabelo curto, olhos cor de mel e muito séria (acho que era porque ela tinha acabado de acordar). Eu tentei avisar a mamãe que aquela não era a prima Julia que mora no Longe - acho que ela não me entendeu, mas tudo bem - até que me explicaram que era outra Julia, de Outro Longe, mas que também era minha prima. Daí eu fiquei pensando: será que existe outra Luiza aqui no Perto? Ou será que tem Outro Perto?

Muito confuso isso.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Agruras da transmissão esportiva no Brasil - III

Ontem ouvi o primeiro tempo dos jogos das Eliminatórias da CONMEBOL pelo rádio. Como no meu carro o AM pega muito mal, as opções eram a CBN, passando Brasil x Venezuela, e a Bandeirantes, com Uruguai x Argentina. Não, a Transamérica não é opção.

Como o jogo de Montevideo era muito mais interessante que o de Campo Grande, comecei na Band. Meu Deus, o narrador parecia operador de telemarketing! Seu bordão é "vai anotando aí, torcedor! A bola vai rolando, a Bandeirantes informando e você vai se ligando!". Pode até não ter erro de português, mas ô coisa feia! Sem falar no comentarista, deprimido e deprimente, que só falava quão ruim era o jogo e como ele não conseguia nem lembrar de alguma chance de gol para algum dos lados - detalhe é que eu cheguei no clube a tempo de ver os melhores momentos do primeiro tempo e vi três chances claras antes dos 20 minutos. Dizem que ginseng e pó de barbatana de tubarão ajudam a melhorar a memória.

Sou do tempo em que as transmissões do rádio eram empolgantes, mais até que as próprias partidas, por isso resolvi dar uma chance ao Brasil x Venezuela. Porém, foi só mudar de canal que peguei o narrador chamando o estádio Morenão de Mineirão. Daí, começou a ler as perguntas no chat da rádio e repassou uma delas à repórter: por que o estádio se chama Morenão? A moça me responde que não sabe, mas vai até perguntar para alguém por ali para ver se descobre. Um show de pró-atividade!

Voltei ao clássico platense bem a tempo de ouvir o narrador anunciando "tempo e placar aqui no Morumbi". Em seguida, o comentarista fala de um lance na zaga argentina e diz que "o corte foi do O-ta-men-di. Otamendi, é isso mesmo!".

Volto à Campo Grande. O narrador está indignado com a não marcação do que parecia ser um penalti claríssimo para o Brasil. Chama a repórter, que compartilha da sua indignação. Chama o comentarista, que está vendo o jogo na TV e diz que o replay mostra claramente que não foi penalti. Mea culpa do narrador? Congratulações ao árbitro pelo acerto? Nada, segue o jogo. Só faltou o narrador dizer "mas bem que ele podia ter dado".

Nas transmissões de jogos pela TV, há o recurso de colocar no mute e só assistir à partida. No rádio, nem isso. Alguma emissora devia transmitir apenas os barulhos do jogo, a torcida, o áudio dos treinadores, etc, para que nós tivéssemos uma opção nessas horas inglórias.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Capítulo 9

Do meio da massa de passageiros, sacolas e guarda-chuvas, dois coreanos e um saco de supermercado foram expelidos de uma van prateada no meio fio da Praça da Sé. Um deles recolheu o saco e o enfiou dentro do casaco, olhando em volta a procura de pedestres curiosos demais. Ninguém notara a faca ou a camisa ensangüentada se projetando do saco plástico. Menos mal. Encaminharam-se para a Estação São Bento do Metrô a passos largos e já estavam quase chegando quando seu celular tocou.

- Alô...sim...baixinho de bigode e gringo alto...mala na mão...vivos? Mais fácil...ok...a Liberdade é nossa.

Fez um sinal para que seu companheiro fosse na frente. Era preciso retransmitir a mensagem antes de entrar no Metrô e perder completamente o sinal. Discou o número, ‘Send’ e aguardou.

- Alô...sim...são dois, um baixinho de bigode e um gringo alto...mas atenção! Todos os acessos devem ser vigiados!

Fechou o telefone e saiu em direção à estação. Isso seria difícil, mais difícil que o cearense no beco sórdido. Teriam que agir com discrição, já que os alvos provavelmente estariam esperando um ataque.

Não tinha medo do americano famoso, mas intimamente torcia para que eles desembarcassem em outra estação. Não gostava da Liberdade, com aquele monte de japoneses em volta. Sentia-se descoberto, óbvio, tão destacado na multidão quanto se estivesse de verde no meio da Gaviões. Felizmente, já era quase nove da noite e os trens não estavam mais tão lotados, mas ainda assim a Liberdade lhe causava calafrios.

Seu companheiro o aguardava ao lado da catraca. Em poucos minutos, estavam amontoados no vagão, chacoalhando no sentido Jabaquara.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Decifrando o mundo

Berço da bebê. Móbile do Winnie the Pooh rodando. Com uma ruga na testa, Lui observa atentamente a dança dos bichinhos. Porco rosa...tigre laranja...urso amarelo...burro cinza...

De repente, heureca! Ela abre um sorriso gigantesco, daqueles que só cabem em uma descoberta histórica, que mude os paradigmas da vida. A descoberta é tão fantástica que não basta sorrir, é preciso também mexer braços e pernas. E chamar alguém para testemunhar, claro.

Sim, fui eu a testemunha. Mas não me perguntem do quê, pois isso ainda é muito avançado para mim.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Capítulo 8

Pegando um caminho alternativo, que incluía algumas dúzias de ruelas e travessas, o Audi A36 seguia paralelo à Marginal Tietê. Nenhum dos dois falara uma palavra nos últimos quinze minutos. A tensão era palpável. O negão ligou o rádio em busca de distração, mas caiu em uma emissora de notícias.

...e o trânsito continua extremamente lento na Marginal do Tietê no sentido Castelo Branco até a Ponte das Bandeiras...

- Acelera essa porra, china, quem sabe a gente ainda pega os caras!

Logo em seguida, o âncora do jornal chamou uma repórter para falar do assassinato brutal do sobrinho do comandante da PM, recém descoberto pela polícia com a ajuda do moto-boy de uma companhia de seguros. O negão ficou lívido enquanto a repórter descrevia as ximbicas destruídas, o cadáver do boyzinho e o carro em que eles agora estavam, dizendo que toda a polícia das Zonas Norte e Leste havia sido mobilizada para encontrar os meliantes em fuga.

- Não podemos mais ficar nesse carro – disse sabiamente o coreano – Vamos parar no Tietê e pegar o metrô.

- Mas e o gringo? – perguntou estupefato o negão.

- Vamos fazer o mesmo que a polícia, honorável colega.

Sacou o celular do boy, discou um número e passou a descrição minuciosa do carro perseguido e de seus passageiros, pedindo que fosse divulgada entre os outros membros do grupo sem demora.

Alguns minutos depois, o coreano entrou no estacionamento do Terminal Rodoviário do Tietê, parando na primeira vaga que encontrou. Os dois desceram do Audi e por pouco não foram atropelados por uma Brasília azul-calcinha que dava ré para sair da vaga de deficiente físico.

Xingando o motorista, o negão e o coreano entraram no Terminal e se dirigiram à bilheteria.

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Durante o restante do trajeto, o homenzinho continuara com seu mutismo enervante, apesar das insistentes perguntas de Longdon. Para onde estamos indo? Quem era o negão que apontou o revólver para ele? Estamos chegando? Por que aquilo ali chama Center Norte? Ou é north ou center, right?

Após mais meia hora enroscados no trânsito, tempo no qual eles consumiram todas as provisões compradas, o Monza finalmente parava na faixa de desembarque do Terminal Rodoviário do Tietê. Longdon hesitou um pouco, mas, vendo que o homenzinho havia desligado o motor, pegou sua mala e desceu. Assim que pôs o pé na calçada, foi prontamente abordado por um garoto de seus 12 anos, esfarrapado e sorridente.

- Deixa que eu carrego, tio!

Mas antes que ele se apoderasse da bagagem do americano, o homenzinho desceu do carro.

- Pode deixar, rapaz, eu levo.

- Então me dá um trocado, tio. Pra ajudar a alimentar minha mãe e meus cinco irmãos menores...
- Tou sem trocado, mas – jogando a chave do Monza para ele – fica com ele pra você...

O garoto olhou para o carro de cima a baixo e fez uma careta.

- Não tem nem uma moedinha mesmo, tio?

Dando de ombros, Longdon e o homenzinho entraram no Terminal e se dirigiram à bilheteria.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Capítulo 7

No bar da cobertura do Edifício Itália, vários executivos se acomodavam nas mesas e no balcão, afrouxando o nó da gravata e se desfazendo do paletó. Era o início do ritual de confraternização que aplacaria os deuses do stress, do mau humor e das preocupações corporativas: o happy hour. Muita gente, muito barulho e uma legião de garçons distribuindo bebidas completavam o panorama, enquanto, ao fundo, uma balada de Eros Ramazzotti tocava discretamente.

No terraço, em uma mesa de frente para o sol poente, degustando um Blue Label e petiscando caviar Beluga, J. P. Alphonsus III assistia ao magnífico entardecer. Mesmo após um dia exaustivo de trabalho, seu terno Armani estava impecável. Do bolso de sua camisa se pronunciava o derrière de uma Mont Blanc e uma gravata de seda italiana fechava o conjunto com maestria. Porém, apesar de ser um exímio jogador de pôquer, seus olhos destoavam da harmonia do pacote e traíam as preocupações que lhe iam na alma.

Assim que os últimos raios alaranjados banharam a Catedral da Sé e as estrelas assumiram seus postos no céu invernal de São Paulo, seu celular vibrou, acusando o recebimento de uma mensagem de texto. Ansioso, ele sacou o aparelho e leu o visor. O avião já pousara e eles foram vistos saindo do aeroporto. Bom. Era hora de conhecer o fabuloso americano solucionador de mistérios e acabar de vez com esse pesadelo.

Com um leve aceno, chamou o maître e o instruiu a pedir seu carro. Tomou um longo gole do uísque e, ao recolocar o copo na mesa, percebeu que sua mão tremia. Estava nervoso, mas não era para menos. Ia conhecer o Sherlock Holmes moderno, o Hercule Poirot do século XXI! Em carne e osso, e sem aquele bigodinho ridículo! Relembrou todos os livros de detetive que devorara quando pequeno e sentiu um arrepio de excitação percorrer sua espinha.

Sorveu mais um gole e esboçou um sorriso. Em uma mesa lá dentro começavam a ensaiar um ‘Parabéns a Você’ quando o maître veio avisar que seu carro estava pronto.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Vitória épica

Antes de mais nada, só para tirar do caminho, o árbitro. Um rapaz novo, que quis mostrar pulso logo no começo do jogo expulsando o Júnior César por reclamação. Até aí tudo bem, ele merecia mesmo - só que não dá para o juiz decidir que já foi rigor o suficiente e, de repente, parar de dar cartão por reclamações acintosas. Ou então ignorar solenemente as duas vezes em que o Carlinhos Bala meteu a mão na bola. Enfim, uma má atuação, mesmo não comprometendo em 'lances capitais'.

Ok, now it´s out of my system. Voltemos a falar do jogo. E que jogo!

O Náutico entrou como o Alonso quando vai quase sem combustível para tentar a pole: mais rápido, mas sabendo que não ia aguentar o jogo inteiro nesse ritmo. Daí, o SPFC providenciou um safety car, dirigido pelo Júnior César. No segundo tempo, o tricolor cresceu, foi para cima e empatou - mesmo o gol tendo nascido de um desvio da zaga pernambucana, era nítido que os paulistas tinham acelerado o ritmo. Daí, veio um stop-and-go, cortesia do Richarlyson, para praticamente sepultar as nossas chances de vitória. Só que o Hugo tinha outras idéias. Jogando com uma vontade rara, o camisa 18 chamou o jogo para si e, antes mesmo do seu (belíssimo) gol, teve duas ótimas oportunidades de desempatar a partida.

Claro que o SPFC tem apresentado vários defeitos e involuções - as mais claras são a queda de rendimento das bolas aéreas (ontem tomamos outro gol em cruzamento e eu nem lembro mais quando foi o nosso último gol de cabeça), o aumento do número de bolas perdidas na defesa e o grande número de cartões evitáveis - mas não dá para negar que o time tem espírito de campeão. Já o Náutico deve ter alguma coisa com (ou contra) o SPFC: todo jogo entre os dois lá nos Aflitos me dá a impressão que o time pernambucano é melhor do que a posição na tabela faz crer. E agora, diferente da rodada passada, o Palmeiras finalmente joga pressionado.

A vitória é uma sensação inebriante. Fiquei até às 0h30 tentando digerir a endorfina para dormir.