quinta-feira, 30 de abril de 2009

To do

Tinha recebido um email do Departamento de Relações Interpessoais. Que raio de departamento era esse mesmo? Ah, é aquele novo, da garotada recém-formada em psicologia, que engabelou o chefe com um papinho new-age. A última deles era fazer experiências sociológicas bizarras com o intuito de 'mapear as reações humanas às adversidades'. No meu tempo, chamavam isso de sadismo mesmo.

Bom, manda quem pode, obedece quem tem juízo. O que os garotos queriam dela? Um jogo de futebol decisivo em que o melhor jogador de cada time deve se contundir. Isso vai ajudar a mapear como os demais lidam com a pressão de jogar sem seu líder e blá, blá, blá....que desperdício de digitação, como se eu fosse ler toda a baboseira que eles escrevem para enrolar o chefe. Só quero saber como é que eu vou descobrir quem são esses tais melhores jogadores. Ah, tá aqui: o 10 do branco e o 5 do verde! That's all I need.

Ok, vamos lá que o jogo já começou. Não posso machucar os dois ao mesmo tempo, ia ficar muito na cara, mas tem que ser logo para não dizerem que a experiência não tinha sido longa o bastante. Vamos começar com o branco, já que ele joga em casa. Tá ali o 10 deles, correndo no meio, com o 5 do verde bem atrás. Uma lesão leve na coxa direita. Isso, pronto. Esse já foi.

Vamos para o 5 do verde, agora. Não entendo muito de futebol, mas sei que os melhores jogadores, os mais valorizados, são os que criam as jogadas e fazem os gols. E esse 5 não faz nada disso, só corre atrás do 10 do branco e o atrapalha. Será que é ele mesmo quem tem que sair? Era só o que faltava levar a culpa por um erro de digitação do estagiário dos garotos. Ops, o 10 do branco tá achando que vai voltar! É isso que dá você tentar ser sutil...vai lá então, contratura muscular. E vê se deixa de ser teimoso na próxima vez.

Voltando ao verde, melhor mandar um email para o DRI confirmando o número. Ainda mais que o 9 já chutou duas bolas na trave, uma num lindo passe do 7. Se não responderem até o intervalo, vou ligar lá e ver se tem alguém de plantão. Opa, já chegou a resposta! Confirmado, é o 5 mesmo. Aparentemente, não tinha time de futebol na faculdade de psicologia dos garotos.

Para não me repetir, vamos agora de torção de tornozelo. Não aquela prosaica, num buraco, mas uma com pisão do adversário e esgares de dor. Daquelas capazes de fazer os sádicos do DRI não reclamarem pela demora. Ctrl+C, Ctrl+V e enter. Pronto, tá lá o número 5 no chão. Agora, saindo de maca, com cara de desespero.

Missão cumprida, vai entrar o 24 no lugar do 5. Ou não! O 5 do verde é ainda mais teimoso que o 10 do branco e voltou para o campo! E isso porque o dele é bem mais doloroso. Mas se ele quer ser herói, herói ele será. Dor, enter. Dor, dor, dor, enter. Será possível que eu vou ter que cortar um ligamento para ele sair?

Ufa, ele pediu para ser substituído. Mas não antes de salvar um gol dentro da pequena área. É, talvez ele seja mesmo mais útil do que eu pensava, mas o 9 e o 7 pareciam tão melhores! Tomara que o DRI não encane dele ter ficado quase um tempo a mais que o outro no campo. Ih, o 13 do verde foi expulso. E o 7 caiu meio torto depois de tentar uma bicicleta. Não tenho nada com isso, nem perto do teclado eu tava! Melhor eu ir embora antes que sobre para mim. Não quero nem ver o relatório do DRI amanhã.

Shut down, ok, enter. E acho que já era para o verde...com um a menos, com o 9 sumido, sem o 5 e sem o 7. Mas não é que o 8 quase faz um gol? Defesaça do goleiro do branco. Parece até que é o branco que tem um a menos nesse final. Bolsa, casaco, chave, guarda-chuva...gol. Gol? Gol! Golaço do 10! Faltando uns 5 minutos para acabar! É, talvez eu queira ler o relatório do DRI amanhã. Quero só ver como eles vão menosprezar os humanos depois dessa.

Acabou o jogo, festa do verde, todo mundo se abraçando. E olha o 5 pulando lá no meio! Sorte dele que eu já desliguei tudo, senão ia ver só.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Pitacos

Marketing pessoal

Se o Bosco viesse aqui, Onde Não Nasce Grama, saberia que dar dois passos e parar quando o atacante chega na cara do gol aumenta as chances de defesa. Elas continuariam a ser apenas matemáticas contra o Ronaldo, mas seriam bem substanciais ontem, contra o glorioso Wilmer Parra.

Psicologia de botequim

Quando o time estava com moral e ele também, Dagoberto jogava de médio para bem (assim como o time, diga-se de passagem). Quando ele perdeu a moral, mas o time continuou prestigiado, ele passou a jogar pedrinha. Ontem, no primeiro jogo em que o time jogou quase sem moral, ele foi decisivo como nunca antes no São Paulo.
Tomara que seja mesmo simples assim.

Ser ou não ser

São Paulo e Palmeiras perderam no Paulista, o menor campeonato que disputam, e ganharam tempo para se preparar na Libertadores. O Santos perdeu na Copa do Brasil, o maior que disputa, e vai jogar seu semestre (e provavelmente o trabalho do Vagner Mancini) na final do Paulista. O Corinthians está vivo nos dois e vai ter a difícil missão de balancear forças e expectativas.
Sei não, mas me parece que os dois primeiros negociaram melhor a ultrapassagem.

Gripe Aviária

Parece que o surto de frangos em jogos importantes da semana passada foi contido antes de virar epidemia. Só relembrando: Rogério contra o Independiente Medellin, Cech contra o Liverpool, Reina contra o Chelsea e Fabio Costa contra o Palmeiras (o gol da parceria Mesa-Dagoberto não é bem um frango, então não entrou nas estatísticas oficiais).
Mais algum que eu esqueci?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Dois passos e pára

Resumo - técnica popularizada no Brasil por Emerson Leão (creio que foi inventada por Lev Yashin, mas não tenho certeza), consiste em avançar em direção ao atacante para fechar o ângulo e parar para firmar os pés antes que ele defina a jogada com um drible ou um chute. É o que existe de mais eficiente na arte de enfrentar atacantes cara-a-cara.

Situação inicial - quando o atacante sai na cara do gol, ele tem a faca, o queijo, o sacarrolha e um Sauvignon Blanc na mão. A bola está dominada e o único defensor entre ele e o gol é o goleiro. Claro que a defesa está por perto, pronta para dar o bote, mas ele tem tempo suficiente para escolher a melhor jogada e executá-la antes que se possa fazer alguma coisa. Pode parecer que sua situação é confortável, mas ele está pressionado - experimenta segurar uma faca, um queijo, um sacarrolha e uma garrafa de vinho mantendo tudo longe daquele seu amigo bebum e morto de fome (sugestão: se nessa situação você quiser chutar algo no gol, que seja o queijo. Ou seu amigo).

Fundamentos - se o goleiro ficar embaixo das traves, o atacante praticamente tem um penalti a seu dispor, razão pela qual ele sai em direção ao adversário para fechar o ângulo do chute. Porém, um goleiro em movimento tem muito menos chance de defender do que um parado, com os pés plantados em paralelo e posicionado para defender. Dessa forma, o goleiro deve se aproximar do atacante sorrateiramente, aproveitando sua distração com os zagueiros, a torcida e as câmeras, tomando posição ao menor indício da conclusão. Mais ou menos como os fantasmas no castelo do Super Mario, que só se mexiam quando os encanadores italianos não estavam olhando. Geralmente, o máximo que um goleiro consegue é dar dois passos em direção ao atacante antes que ele perceba o movimento e tente definir a jogada, donde advém o nome da técnica.

Clímax - goleiro e atacante estão frente a frente, numa disputa de habilidade e frieza em que qualquer detalhe pode ser decisivo. A torcida e os demais jogadores ficam naquele silêncio que antecede a explosão de comemoração, seja do gol ou da defesa. O ambiente é pesado e a tensão no ar é o melhor aliado do goleiro contra a bola, o queijo, a faca, o sacarrolhas e o Sauvignon Blanc do atacante. Se for um centroavante experiente, com faro de gol e frieza dentro da área, nada disso vai importar muito e tudo vai depender da atuação do goleiro. Mas se a bola sobra na cara do gol no pé de um zagueiro, dá até para ver as gotas de suor frio emanando da sua fronte.

Desenlace - independente dos detalhes do lance e da posição do atacante adversário, o que realmente conta na hora H é a destreza do goleiro e seus reflexos. Se ele conseguiu dar os dois passos e parar antes da conclusão, suas chances de defesa já são mais reais e palpáveis. Se o atacante for do tipo vamos-acabar-logo-com-isso, vai tentar concluir com um rápido e indolor chute. Se for sádico, deve tentar um drible para concluir no gol vazio. Se for covarde (só o atacante do adversário. O do nosso time é altruísta), vai evitar confrontar o goleiro, tocando a bola para um companheiro livre fazer o gol. Mas em toda e qualquer opção, a maestria e a galhardia do goleiro é que definirão se haverá um final feliz, com a bola se aninhando em seus braços ou se perdendo pela linha de fundo, ou se será ouvido o triste som dela batendo no fundo das redes.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O Ocaso de uma Era

Rogério Ceni já virou sinônimo de São Paulo Futebol Clube. Nada do que acontecer entre hoje e o fim da carreira dele pode mudar isso, nem um frango em final de campeonato - que ele inclusive já tomou, lá no Beira-Rio em 2006. Se ele não é o maior jogador da história do clube, está bem no meio da discussão, junto com Raí, Pedro Rocha, Roberto Dias e outros monstros sagrados.

Essa constatação pode parecer óbvia para os mais novos (para quem, como diz um amigo meu, Careca é apenas um cara sem cabelo), mas nem sempre o capitão tricolor foi a unanimidade que ele hoje é. Desde quando assumiu o posto do Zetti em 1997 até o início do milênio, Rogério passou por várias zonas de turbulência. Como, por exemplo, a freguesia para o melhor Corinthians que eu já vi, entre 1998 e 2002. Ou a obscura história da 'proposta' do Arsenal. Ou o 'time de pipoca'. Ou ainda o naufrágio dos galáticos do Morumbi frente aos Meninos da Vila em 2002. Qualquer um desses episódios podia ter encerrado precocemente sua passagem pelo São Paulo (como encerraram as de Kaká, Ricardinho e Julio Batista, entre outros) mas ele soube se reerguer a cada crise. Ao final de cada temporada, nasciam boatos sobre as contratações mais loucas para as mais diversas posições - menos para o gol. Lembro que após umas duas temporadas com zagas catastróficas (Jean, Julio Santos, Régis, Sorlei, Rogério Pinheiro, Pedro Paulo, Nem, entre outros de péssima lembrança) cheguei até a me perguntar se o problema não seria o próprio Rogério Ceni, uma vez que ele era o único elo comum a tantos fracassos defensivos.

De 2003 para cá é que o panorama atual começou a se desenhar. O São Paulo voltou à Libertadores, arrumou a cozinha e Rogério foi o protagonista de algumas das maiores glórias do clube.

O são-paulino consciente, aquele que enxerga mais do jogo do que a simples vitória ou derrota, já vem se preparando para o encerramento dessa trajetória brilhante. Cada falha parece ser um prenúncio do fim. Cada contusão parece ser a definitiva. Mas as falhas nesses últimos anos foram poucas e as contusões, menos ainda. Esse ano, foram 2 problemas musculares e essa fratura em menos de 4 meses. E 4 falhas nos últimos 2 jogos.

Pode até ser que estejamos testemunhando o começo do fim (como diz o ditado, viva todos os dias como se fosse o último, que um dia você acerta), mas torço muito para que ele não se deixe abater. Desejo muita força de vontade ao Rogério para dar a volta por cima. Que ele retorne à meta no Brasileiro e volte à Libertadores no ano que vem. Uma carreira como a dele não merece um fim melancólico assim.

E que Deus esteja com Bosco!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Atualização de Leitura - mar/09

Desde a última atualização, já li mais três livros da coleção do Sharpe. São eles:
  • O Triunfo de Sharpe, que conta a batalha na cidade indiana de Assaye
  • A Fortaleza de Sharpe, que conta o cerco inglês à Gawilghur, no coração da Índia
  • Sharpe em Trafalgar, que conta a famosa batalha naval de Trafalgar

Os três são bons, mas o último foi o melhor da série so far. Estou lendo agora A Presa de Sharpe, que conta a batalha de Copenhague.

Dei uma pesquisada na net e descobri que o Bernard Cornwell já publicou 21 livros dessa coleção! E que já foram lançados 16 filmes, tendo o Sean Bean (o Boromir, de Senhor dos Anéis) no papel principal! E que já existem dois livros de receita (Sharpe's Chefs) sobre o universo de Richard Sharpe! E que os CDs com a trilha sonora dos filmes são procuradíssimos na Inglaterra!

Estou me sentindo o cara mais avoado do planeta. Como é que esse mundo existe desde 1980 e eu só fiquei sabendo agora, quase 30 anos depois? É como se fosse uma London Below (de Neverwhere, do Neil Gaiman) bem debaixo do meu nariz.

Tive uma sensação semelhante quando meu irmão me indicou O Hobbit. Como é que um cara que, na época, selecionava os livros por quantidade de páginas e tamanho da letra (se tivesse figura, melhor ainda) podia conhecer mais sobre o universo fantástico-mitológico-medieval do que eu, que sempre fui um fervoroso fã do assunto - e, nessa época, estava no auge do meu nerdis... er, interesse?

Voltando ao Sharpe, essa avalanche de publicações me dá uma sensação parecida com a de pegar um episódio de Lost no meio ou tentar acompanhar história de gibi de herói (for the records, já tentei o Super-Homem, na época da sua morte e ressurreição, e ainda tento o Tex, mas só pelas coletâneas). Para os felizardos que nunca a tiveram, é a certeza de que a vida será muito curta para ler/assistir/absorver todas as informações disponíveis sobre o assunto. E que a única salvação está em um bilhete premiado da Mega-Sena.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Regra 11: Impedimento

O impedimento ocorre quando um jogador da equipe que está atacando tem, entre ele e a linha de fundo, menos de dois jogadores da equipe adversária. Não há impedimento:

  • Quando o jogador em posição irregular estiver em sua própria metade do campo;
  • Em cobranças de lateral;
  • Em cobranças de escanteios;
  • Em cobrança de tiro de meta;
  • Quando a bola é lançada por um jogador da equipe adversária;
  • Quando o jogador irregular está atrás da linha de fundo ou além das linhas limítrofes laterais, portanto, fora da área de jogo;
  • Quando o jogador está atrás da linha da bola;
  • Quando o jogador está na mesma linha do segundo jogador adversário mais próximo da linha de fundo;
  • Quando o jogador irregular não interfere na jogada - "impedimento passivo";
  • Em gols do André Lima com a camisa do São Paulo.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Tipos de goleiros

Quem joga ou assiste futebol já sabe, mas para você que não joga, não assiste e tem raiva de quem o faz, eis aqui uma verdade fundamental do ludopédio: existem vários tipos de goleiro. E não estou falando só das tipificações básicas, como o meu e o adversário ou os bons e os frangueiros, mas das grandes diferenças de estilo, daquelas que marcam época.

Por exemplo, vamos pegar o começo da década de 90. A maior rivalidade era entre Corinthians e São Paulo, pois o Palmeiras ainda amargava o 14º ano da sua maior fila e o Santos vivia um limbo entre as duas gerações de Meninos da Vila. Ronaldo e Zetti envergavam a 1 no Parque São Jorge e no Morumbi, respectivamente. Ambos viviam grande fase e eram símbolos em seus clubes. Porém, dificilmente seria possível encaixar os dois em uma mesma categoria dentro do universo dos goleiros.

Zetti era sóbrio, Ronaldo era espalhafatoso. Zetti era articulado, Ronaldo era maloqueiro. Zetti seguia a máxima de seu treinador de goleiros, o monstro sagrado Valdir Joaquim de Moraes (em breve na seção de Lendas), que dizia que goleiro que voa muito é porque está mal colocado. Ronaldo dava ponte até em bola rasteira. Enfim, Ronaldo e Zetti encarnavam dois tipos completamente diferentes de goleiro.

Na minha visão, o Ronaldo é o cara que nasceu goleiro. Claro que ele treinava para se manter em forma, mas ele é o tipo de goleiro que mesmo com 40 anos e uma barriga de chope ia continuar fechando o gol nas peladas (está aí o Showbol que não me deixa mentir). Meu primeiro treinador de goleiros dizia que o Ronaldo havia sido descoberto jogando basquete no Corinthians, ao fazer uma série de lançamentos longos e roubar umas bolas. Não sei até onde é verdade, mas ilustra bem o ponto: o cara era goleiro até jogando basquete. Um goleiro ao natural, em estado bruto, do tipo instintivo. O russo Rinat Dasaev, o paraguaio José Chilavert e o camaronês Thomas N'Kono também me passavam a mesma impressão.

O Zetti, por outro lado, sempre me deu a impressão de ser extremamente dedicado e dependente dos treinos. Um cara que quando ia jogar no exterior tinha que fazer quedas no corredor do avião para não perder a forma. Ele também era capaz de fazer milagres (como na ida das oitavas da Libertadores de 94, quando parou Evair, Edmundo, Zinho & cia praticamente sozinho), mas suas defesas sempre me deram a impressão de serem friamente calculadas, como se ele traçasse mentalmente a melhor trajetória para interceptar o chute. Um goleiro que sempre tentava melhorar, progredir, do tipo aplicado. O belga Michel Preud'homme, o italiano Dino Zoff e o brasileiro Velloso também pareciam ser desse tipo.

Outro tipo de goleiro é o de fundamentos perfeitos. Waldir Peres, por exemplo, ficou conhecido pela facilidade de pegar penaltis e pela catimba com que irritava os batedores. O que pouca gente se recorda é da perfeição dos seus movimentos. Waldir sempre teve uma pegada segura, sabia trocar de mão com maestria e fazia quedas de manual. O problema desse tipo de goleiro é acabar sendo traído pelo excesso de confiança, como Waldir o foi naquele chute despretensioso do soviético Bal na Copa de 82. O dinamarquês Peter Schmeichel e o alemão Oliver Kahn eram desse tipo, assim como o chileno Roberto Rojas.

Mais um tipo: o goleiro operário. Aquele que é extremamente regular, quase não falha, mas também dificilmente faz milagres. É o cara que devia ter uma plaquinha do lado escrito "Estamos trabalhando há X dias sem acidentes". Fica mais difícil lembrar de exemplos nesse caso, pois a memória popular costuma se prender mais ao diferente que ao regular, mesmo quando a regularidade é fora do comum. Assim, esses goleiros costumam ser vistos pela torcida como mais discretos e 'esquecíveis', embora alguns se destaquem, como os brasileiros Paulo Sérgio, Carlos Germano e Maurício, assim como o argentino Luis Islas.

Outro tipo: o goleiro desengonçado. Geralmente muito alto, tem grande envergadura e elasticidade, costuma ser excelente em bolas cara-a-cara, mas se atrapalha com bolas no chão - na verdade, dá a impressão de ter preguiça de se abaixar para pegar as bolas rasteiras. Tem um jeitão meio displicente, parece até alguém pegando no gol só porque o goleiro faltou. O brasileiro Dida se encaixa nesse perfil, assim como o argentino Sergio Goycochea e holandês Ed de Goey.

Outro tipo: o goleiro espetáculo, daqueles que parecem mais preocupados com a plástica da defesa do que com a segurança da meta. Lógico que nem sempre é proposital, mas a escolha de defesa desse tipo de goleiro costuma ser a mais arriscada possível. O sueco Thomas Ravelli, o colombiano René Higuita e belga Jean-Marie Pfaff eram verdadeiros entertainers ludopédicos, mas o brasileiro Danrlei também cabe na lista.

WARNING: Essa segmentação é baseada apenas e tão somente na minha opinião. Além disso, ela não avalia em nenhum momento a qualidade dos goleiros. Independente do tipo, todo goleiro tem seu dia de deus hindu de muitos braços, quando sai de campo coberto de glórias e apelidos. Todos os goleiros citados foram muito bons, senão não seriam lembrados 5, 10, 15, 20 anos depois de pararem de jogar.

Uma lista como essa é viva e vai crescendo de acordo com o que a memória permitir. Por isso, segue um apanhado geral, com alguns goleiros em atividade para ilustrar cada tipo:

  • Instintivo - Buffon, Rogério Ceni e Marcos
  • Aplicado - Cech, Van der Sar e Victor
  • Fundamentos perfeitos - Casillas, Toldo e Doni
  • Operário - Pepe Reina, Palop e Magrão
  • Desengonçado - Gomes, Hélton e Lauro
  • Espetáculo - Felipe, Fábio Costa e Victor Valdés