segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Clássico é clássico

Ainda estou achando difícil entender como um jogo pode ser tão bom e tão ruim ao mesmo tempo quanto o São Paulo 1x1 Palmeiras desse domingo.

O gol do Dagoberto foi coisa de cinema: um lob no Marcos com requintes de crueldade. A defesa do próprio Marcos na tentativa do Fernandinho foi espetacular, coisa de quem sabe muito do assunto - ainda mais com o santo reclamando de dor no braço por causa da força do chute. A defesa do Rogério Ceni na bicicleta do Luan foi surreal, coisa difícil de se imaginar - e mais ainda de se executar. A tabelinha entre Dagoberto e Rivaldo, que culminou numa pancade de esquerda raspando a trave, também foi de empolgar.

Por outro lado, tivemos umas 4 ou 5 bolas isoladas de joanete pelo Xandão - lances que seriam bisonhos no Campeonato Interno do Paulistano. Os passes da ala direita do São Paulo, com Piris e Wellington também estavam sofríveis. O João Filipe nos brindou com uma arrancada seguida de mergulho daquelas de despertar a vergonha alheia. Até Rogério e Marcos contribuíram para o show de horror: o primeiro, não saindo do gol nem em bola dentro da pequena área e o segundo, batendo um tiro-de-meta no pé do atacante são-paulino. E deve ter tido mais alguma do Palmeiras que eu não registrei - ninguém joga com Leandro Amaro impunemente.

Em um jogo bi-polar como esse, não era possível mesmo o resultado agradar a algum dos lados. Bom para os corinthianos, que se mantém na liderança a despeito do esforço do time para entregá-la de mão-beijada.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

The times they are a-changing...

O Uol publicou uma entrevista no ex-goleiro do Inter João Gabriel no fim de semana (leia aqui). A chamada da matéria foi totalmente apelativa, como sói acontecer no portal, deixando de lado a história principal (que, convenhamos, é apenas fairly interesting) para puxar as duas frases polêmicas do cara e as tirar do contexto. Como diz um jornalista que sigo no twitter, é a vitória do jornalismo-de-resultados sobre o jornalismo-arte. Mas, enfim, esse é apenas um parênteses. O que eu quero mesmo é me solidarizar com as duas frases polêmicas do João Gabriel, até para complementar um raciocínio que comecei aqui.

Não tenho a menor dúvida de que a técnica vem sendo cada vez mais deixada de lado na preparação dos goleiros. Para mim, o João Gabriel colocou até de maneira elegante, atribuindo parte da 'culpa' à evolução do material da bola. Eu já acho que as coisas estão involuindo a olhos vistos faz alguns anos, graças aos treinadores de goleiro, à conivência dos técnicos e à ignorância dos comentaristas.

Isso não quer dizer que Rogério Ceni, Marcos e Julio César sejam maus goleiros, nem que eu seja melhor que eles - como alguns trolls que infestam a caixa de comentários do Uol sugeriram. Significa, apenas, que estamos desperdiçando o potencial enorme de uma geração inteira de goleiros, que estão se desenvolvendo sem levar em conta os princípios básicos da função, os fundamentos. Seus ícones, inclusive, já estão se aproximando do ocaso e, por mais gloriosas que tenham sido suas carreiras, fico com uma saudade do que poderia ter sido, como diria Clarice Lispector.

Já imaginou São Marcos com os fundamentos do Zetti? Todos aqueles reflexos, a coragem e a sorte somados à colocação perfeita, à pegada segura...ou o Rogério, somando sua elasticidade à trocada de mão correta? Era capaz de ter caído com a bola naquela falta do Gerrard.

Enfim, o jogo está evoluindo (Messi e Neymar são provas vivas de que, cada vez mais, o futebol imita o vídeo-game) e os goleiros não estão acompanhando o ritmo - ou estão, já que goleiro de vídeo-game costuma ser ridículo. E essa constatação é triste, uma vez que a eficiência da posição foi responsável pelas maiores alterações de regra e tática nos últimos 20 anos - em outras palavras, houve um tempo em que os atacantes precisavam de uma nova regra ou um ardil tático para nos vencer. Hoje, eles nos enfrentam em condição de igualdade.