terça-feira, 14 de julho de 2009

A língua dos bebês com tecla SAP

Madrugada, papai e mamãe dormindo no quarto, estômago roncando, 4 horas depois da última mamada
- Unhé! = tou com fome!

3 segundos depois
- Unhééé!!! = cadê o meu leitinho? Eu tou com MUITA fome!

5 segundos depois
- Unhééééééééé!!!!!! = será que a mamãe me abandonou? Será que eu nunca mais vou mamar na vida?

12 segundos depois, já no colo da mamãe
- Auh...auh...auh...(soluçando) = como você demorou, mamãe! Nunca mais me assuste assim! Agora dá meu leitinho aqui!

Ombro da mamãe, arrotando depois de mamar
- Errr...errr... = não, mamãe, o colo é mais pra baixo! Agora eu tou com sono!

Colo da mamãe, processando
- Re...re...re...re... (similar ao final da risada do Pica-pau ou a um carro pegando no tranco) = queria saber pra onde vai todo aquele leitinho...

Trocador, já sem fralda
- Uh... = ah, tá, agora eu sei!

67 segundos depois, enquanto o papai se atrapalha com os botões
- Unhéééé!!! = que parte de 'Errr...errr...' você não entendeu?

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Não, eu ainda não troco a fralda em menos de um minuto.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sobre Lendas e Monstros Sagrados

Enquanto isso, no monte Olimpo, a bancada dos deuses do tênis se reunia para deliberar sobre a futura admissão ou não de um rapaz postulante a lenda. Sendo dos mais liberais dentre as divindades esportivas, os deuses do tênis gostam de compartilhar seu panteão com as lendas e monstros sagrados que desfilaram sua arte pelas quadras - ao contrário dos do futebol, por exemplo, que juram que a lenda deixou de existir no momento em que parou de jogar.

As credenciais do rapaz eram respeitáveis. 60 títulos, sendo 14 Grand Slams, incluindo um career Grand Slam. 237 semanas na liderança do ranking. 5 anos consecutivos ganhando em Wimbledon e no U.S. Open. Ganhador do Laureus quatro anos seguidos. Tudo isso em apenas 28 anos de vida. Além disso, seu jogo tem uma fluidez que faz o tênis parecer fácil, com golpes perfeitos das posições mais difíceis. Só eles sabiam quão difíceis eram e quão fácil ele fazia parecer.

Porém, como em todo grupo liberal que se preze, também no Olimpo havia a oposição. Na bancada do tênis, ela era composta por divindades que já reclamavam há algum tempo que seu espaço vinha diminuindo, como os deuses do saque-e-voleio e do backhand-com-duas-mãos. Segundo eles, se continuassem deixando entrar qualquer um no panteão, logo não sobraria espaço nem para jogar ping-pong!

Como não havia muito o que criticar no jogo do rapaz, os deuses do contra costumavam resmungar sobre a suposta falta de concorrência em sua geração e outras besteiras do tipo. Nunca tinha passado de um débil protesto, até que o rapaz foi superado por um garoto voluntarioso, de sangue quente e transbordando energia. Coisa normal, pela qual todas as grandes lendas passaram em seu tempo, mas que ganhou ares de defeito irremediável nas arengas dos deuses espaçosos. Segundo eles, o rapaz nunca tivera adversários decentes e sucumbira diante do primeiro que apareceu. Estava claro que não merecia compartilhar do mel e da ambrosia com eles.

Era para acabar com essa discussão de uma vez por todas que a cúpula estava de olho em seu principal templo, a quadra central do All England Club, em Wimbledon. Era preciso ver se o que falavam do rapaz não era mesmo exagero - os rumores diziam que ele seria capaz até de rivalizar com o genial Pete Sampras, imaginem!

Algumas lendas e monstros sagrados também compareceram e foram devidamente flagrados, como o próprio Sampras, Bjorn Borg, Manuel Santana, Ilie Nastase, Rod Laver e John McEnroe. Outros, como Arthur Ashe e René Lacoste também estavam lá, embora a multidão não os conseguisse ver. Mesmo os que não estavam presentes, como Boris Becker, Ivan Lendl e Jimmy Connors, assistiram a partida com interesse, curiosos pelo desfecho desse imbróglio.

E assim, após uma batalha de mais de 4 horas de duração, com um 5º set que sozinho valeu por um jogo, o rapaz conseguiu o almejado 15º Slam (sim, ele veio), superando os 14 de Sampras. Seu adversário, um daqueles que nunca tinha sido concorrência, deu um show tão ou mais empolgante que o do campeão. O mundo, que tinha parado para ver a consagração de Roger Federer, ficou emocionado com o coração de Andy Roddick. Depois de toda a luta, das chances perdidas, da pressão psicológica - não se perde de alguém 16 vezes em 18 sem sequelas - o galante vice-campeão, em sua entrevista após o jogo, procurou Sampras na platéia e, com os olhos marejados, disse "eu tentei. Desculpe, Pete, eu tentei segurá-lo".

Todos os deuses, da situação e oposição, ficaram impressionados com Roddick. Ele podia não ser uma lenda, mas com certeza era um monstro sagrado. E quem domina por tanto tempo um adversário desse calibre com certeza merece um lugar no panteão de lendas.

Ao final, a decisão foi unânime. Desfrute ao máximo seu tempo em quadra, Roger, que seu lugar no Olimpo já está garantido.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Crescendo rápido

Segundo a última medição do pediatra, a Lui chegou aos 4,4 kg e 53 cm. Coincidentemente, as roupinhas dela já começaram a ficar apertadas. Ou seja, logo mais nossa Pequena vai passar a ser a nossa Média.

Estraga-prazeres

Agora é oficial: as safras de 2009 de Corinthians e Cruzeiro entraram para o panteão de times mais chatos do futebol. Não pelo que tem jogado - cada um a seu modo, ambos apresentaram um futebol envolvente, eficiente e com lampejos de brilhantismo - mas sim por terem cortado o barato dos torcedores de todos os times não envolvidos nas disputas dessa semana (para referência futura, quarta-feira o Corinthians ganhou a Copa do Brasil em cima do Internacional e quinta-feira o Cruzeiro se classificou para a final da Libertadores em cima do Grêmio).

Olhando para trás, podemos dizer que o ano futebolístico começou um tanto quanto promissor, especialmente em São Paulo. Os principais clubes se reforçaram e todos tinham uma atração especial: Ronaldo no Corinthians, Keirrison no Palmeiras, Neymar no Santos e meio time do Fluminense no São Paulo. Como que para confirmar as expectativas, os quatro chegaram juntos na semifinal pela primeira vez em nove anos. Foram 6 clássicos em 3 semanas, o bastante para deixar os paulistas mal-acostumados.

No resto do mundo, as emoções eram ainda maiores. Na Inglaterra, o Liverpool engatava um jogo épico atrás do outro, com dois empates por 4x4 em uma semana. Na Espanha, o Barcelona foi tão dominante (leia-se 'goleou impiedosamente tantos adversários') que uma casa de apostas parou de aceitar palpites no seu título pouco depois do fim do primeiro turno. Na Champions League, o Chelsea ficou com a vaga na final até o último minuto da segunda partida, quando Iniesta achou um gol no primeiro ataque decente do Barça e classificou os espanhóis para a final mais esperada do milênio, contra o detentor do título Manchester United.

No âmbito das seleções, até a pouco valorizada Copa das Confederações trouxe excelentes partidas, muitos gols e zebras monumentais. Os EUA arrancaram para a classificação depois de duas derrotas acachapantes nos dois primeiros jogos, eliminando a Itália campeã do mundo. Quando todos achavam que teríamos a final ideal, opondo a sensação Espanha ao renascido Brasil, eis que os norte-americanos aprontam de novo e eliminam os campeões europeus. E quando todos pensavam que a final seria apenas uma formalidade para confirmar o título brasileiro, os insistentes ianques me chegam no intervalo ganhando por sólidos 2x0! Por fim, quando todos (que não acertaram uma nessa Copa das Confederações) já se conformavam com o equídeo listrado, o Brasil reage e vira a partida.

Como bem se sabe, torcedor é um bicho insaciável. Depois de ser brindado com essa avalanche de jogos fantásticos, ele só pensa em ter mais. Não há, dentre eles, uma única alma consciente capaz de assumir que sua cota de Jogos do ano (definição em breve) já foi preenchida faz tempo e que, mesmo se todos os jogos do planeta até Dezembro próximo forem peladas piores que a pré-classificatória do Desafio ao Galo, não haverá motivo para reclamar. Não, tudo o que essa overdose de futebol Classe A fez foi elevar as expectativas para os jogos porvir.

Eis porque Corinthians e Cruzeiro terão suas indicações ao Hall of Shame de 2009 ratificadas. Como é que a final da Copa do Brasil e a semifinal da Libertadores podem acabar antes dos 35' do primeiro tempo? Depois de toda a expectativa criada, do DVD-dossiê com erros de arbitragem, das acusações de racismo e das campanhas da torcida gaúcha na esperança da virada, tudo o que tivemos foi um aperitivo, uma amostra de como poderia ter sido bom. 15, 20 minutos de luta pela vida, seguido dos outros 70 ou 75 de briga por uma morte honrosa. Mesmo a honra tendo tanto peso nos pampas, foi como começar vendo uma luta de gladiadores no Coliseu e acabar com o Telecatch na TV.

O que Corinthians e Cruzeiro precisam aprender é que futebol é entretenimento. Pelo menos quando o meu time não joga.