segunda-feira, 6 de abril de 2015

A Ganso o que é de Ganso

No começo dos anos 2000, o SPFC teve  um meia de características parecidas com o Ganso: o Adriano, que apareceu como uma baita promessa na base, mas nunca foi tudo o que parecia que podia ser. Habilidoso, cerebral, batia bem na bola, mas também era lento e não marcava quase nada.

Aqueles foram os anos mais negros que os são-paulinos da minha geração viveram. Seca de títulos, 10 anos sem Libertadores, freguesia para o Corinthians (detalhe relevante: sem rebaixamento ou mesmo briga contra ele. As crises de alguns são piores que a de outros). Foram anos que queimaram grandes jogadores (Leonardo, LFabiano, França) e promessas (Julio Batista, Fabio Simplício), em que gravitávamos constantemente entre o 6º e o 12º lugar do Brasileiro.

Pois em 2001 a coisa parecia que ia ser diferente. Tínhamos um dos melhores centroavantes da história do clube (França), um garoto com faro de gol (LF), um craque vindo da base (Kaká) e um elenco de suporte pra lá de razoável (Julio Batista, Fabio Simplício, Gustavo Nery, Belletti, Carlos Miguel, Maldonado, Emerson, o próprio Adriano). Todos na mão do fatídico Nelsinho Batista, que apesar das polêmicas e dos fartos 1-7 na carreira, até que montava um time azeitado. Ganhamos o Rio-SP daquele ano, o que era um belo aperitivo, e apresentamos o Kaká para o mundo (nessa época, ainda como Cacá). Chegamos em 7º no Brasileirão e caímos no mata-mata para o futuro campeão Atlético-PR, num jogo em que as pancadas de Cocito ofuscaram o melhor Furacão da história.

Pois bem, esse time do São Paulo o Nelsinho azeitou de vez ao puxar o Adriano para o meio dos volantes. Ao invés de deixá-lo mais avançado, como um meia tradicional, onde era presa fácil para os volantes adversários, Nelsinho o trouxe para armar de trás, entre Maldonado e Julio Batista, acionando um ataque letal, com Kaká, França e Luis Fabiano. Adriano não era visado como Ganso, não atraía tanta marcação, por isso tinha espaço para armar quando recuava. Dificilmente alguém vai dar essa liberdade para o Ganso, mas esse é mais um motivo para a estratégia funcionar melhor agora do que em 2001. Se o volante vier atrás do Ganso no meio de campo, vai abrir espaços para Pato, MBastos, Kardec e/ou LFabiano. Se não vier, Ganso vai ter a liberdade e o tempo necessário para buscar o espaço na defesa adversária – coisa que hoje vem sendo feita por Denilson e Souza. O São Paulo só tem a ganhar em ambos os casos.

Do jeito que está montado hoje, o SPFC tem a posse de bola nos pés dos jogadores errados. Pode pegar um Footstats da vida, os campeões da bola no pé vão ser Denilson, Souza, Tolói, Dória, Hudson e Reinaldo (ou Bruno e Carlinhos, tanto faz). A bola chega no Ganso com um cara grudado nas costas dele e meio segundo pra ele resolver. Seria o mesmo que o Barcelona fantástico do Guardiola deixar a bola com Busquets e Piquet: não ia sair nada, ficaria só posse de bola estéril. Tinha que vir um Xavi ou Iniesta pra armar, ou o Messi pra fazer uma mágica. O segredo estava em ficar com a bola até que esses caras tivessem espaço para fazer algo. No SPFC, o objetivo parece ser ficar com a bola e ponto.

Hoje em dia, qualquer time pequeno que enfrenta o SPFC pode ficar encolhido lá atrás sem nenhum pudor ou receio. Os atacantes tricolores vão ficar sem espaço, a bola vai ficar com jogadores que não tem capacidade de criar e vão ter 200 cruzamentos na área. Daí, quando o time começar a ficar nervoso, vão sobrar os espaços pra contra-ataque.

O Ganso é o jogador mais prejudicado nesse esquema. Ele não é o cara que vai resolver em meio metro de campo com o marcador em cima. Não adianta cobrar isso dele – assim como não adianta cobrar que ele entre na área. É preciso puxá-lo pra fora da muvuca, pro lugar onde tem espaço pra jogar. É preciso colocá-lo na linha dos volantes pra armar o jogo com espaço. E se a marcação adversária subir para acompanhá-lo, tanto melhor, que vai abrir espaço para os demais.

É preciso parar de cobrar que o Ganso seja um Raí ou Kaká e deixar que ele seja um Adriano.

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