segunda-feira, 23 de março de 2009

Efeito Pigmalião

O Tigre de Sharpe já se foi. Excelente história, herói empolgante, uma visão minuciosa da Índia e da política expansionista da Inglaterra no fim do século XVIII. Interessante é que o protagonista é Sharpe, mas a sua história se entremeia várias vezes com a ascensão do coronel Arthur Wellesley, que mais tarde seria o general responsável por derrotar ninguém menos que Napoleão Bonaparte na batalha de Waterloo.

O curioso é ter uma novela global relacionada à Índia em cartaz, bem na época em que eu estou lendo uma série que conta parte da história de lá. Será coincidência? Lembro de uma situação semelhante há alguns anos. Eu já havia passado perto dos livros de Tolkien um milhão de vezes. Já tinha lido a contracapa de cada um deles 112 mil vezes. Já tinha quase comprado A Sociedade do Anel aproximadamente 17.351 vezes. Um belo dia, meu irmão precisou ler O Hobbit para a escola e disse que achava que eu ia gostar. Um mês depois, quando eu já tinha sido fisgado e estava começando a ler As Duas Torres, foi anunciado o início das filmagens da trilogia O Senhor dos Anéis.

Isso poderia ser indício dos meus poderes paranormais (ou dos do meu irmão), mas acho que é apenas o efeito Pigmalião trabalhando. Imagine que numa agradável noite de verão, Peter Jackson sai para jantar com os donos da New Line Cinema e Christopher Tolkien (filho do J. R. R.) . No dia seguinte, com certeza, sai uma notícia num tablóide de fofocas de Hollywood sobre as chances de dali sair um filme sobre a trilogia - que, aliás, era uma lacuna imperdoável no acervo de filmes da raça humana à época. Lendo essa notícia, o responsável pelo estoque da Barnes & Noble resolve se antecipar ao crescimento da demanda e duplica a quantidade de cópias disponíveis das obras de Tolkien nas livrarias. O gerente da loja, percebendo que a quantidade de livros de Tolkien é muito maior que o cantinho da estante normalmente reservado a eles, passa a expô-los em um lugar mais central. O editor de Tolkien, vendo os livros ganharem destaque, liga para Christopher Tolkien para sugerir o lançamento de uma nova edição, revitalizada e com mais ilustrações. Porém, Christopher Tolkien não pode atendê-lo, pois está no meio de uma conferência telefônica com Peter Jackson e os donos da New Line Cinema, que nesse exato momento estão dizendo "eu não disse que a história ainda tem mercado? Olha lá, quase na estante central da Barnes & Noble!", tentando convencê-lo a filmar a trilogia. Christopher Tolkien pede um tempo para ponderar a possibilidade dos filmes (e já começa a pensar em atores para os personagens, como Chuck Norris no papel de Sauron) e acaba por autorizar a produção - que, como sabemos, foi um estrondoso sucesso.

É bem capaz da professora do meu irmão ter passado em uma livraria na época em que estava escolhendo os livros que a classe ia ler no ano e deu de cara com a estante do Tolkien. Teve aquele dejà vu de quando lera o livro, acionou sua memória seletiva, ficou 10 segundos se perguntando por que não pensara nisso antes e incluiu O Hobbit na lista. Daí para chegar em mim, no Viggo Mortensen e na cerimônia do Oscar foi um pulo.

O único senão dessa história é que confere alguma utilidade a esses parasitas sociais dos tablóides de fofocas.

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