sexta-feira, 3 de julho de 2009

Estraga-prazeres

Agora é oficial: as safras de 2009 de Corinthians e Cruzeiro entraram para o panteão de times mais chatos do futebol. Não pelo que tem jogado - cada um a seu modo, ambos apresentaram um futebol envolvente, eficiente e com lampejos de brilhantismo - mas sim por terem cortado o barato dos torcedores de todos os times não envolvidos nas disputas dessa semana (para referência futura, quarta-feira o Corinthians ganhou a Copa do Brasil em cima do Internacional e quinta-feira o Cruzeiro se classificou para a final da Libertadores em cima do Grêmio).

Olhando para trás, podemos dizer que o ano futebolístico começou um tanto quanto promissor, especialmente em São Paulo. Os principais clubes se reforçaram e todos tinham uma atração especial: Ronaldo no Corinthians, Keirrison no Palmeiras, Neymar no Santos e meio time do Fluminense no São Paulo. Como que para confirmar as expectativas, os quatro chegaram juntos na semifinal pela primeira vez em nove anos. Foram 6 clássicos em 3 semanas, o bastante para deixar os paulistas mal-acostumados.

No resto do mundo, as emoções eram ainda maiores. Na Inglaterra, o Liverpool engatava um jogo épico atrás do outro, com dois empates por 4x4 em uma semana. Na Espanha, o Barcelona foi tão dominante (leia-se 'goleou impiedosamente tantos adversários') que uma casa de apostas parou de aceitar palpites no seu título pouco depois do fim do primeiro turno. Na Champions League, o Chelsea ficou com a vaga na final até o último minuto da segunda partida, quando Iniesta achou um gol no primeiro ataque decente do Barça e classificou os espanhóis para a final mais esperada do milênio, contra o detentor do título Manchester United.

No âmbito das seleções, até a pouco valorizada Copa das Confederações trouxe excelentes partidas, muitos gols e zebras monumentais. Os EUA arrancaram para a classificação depois de duas derrotas acachapantes nos dois primeiros jogos, eliminando a Itália campeã do mundo. Quando todos achavam que teríamos a final ideal, opondo a sensação Espanha ao renascido Brasil, eis que os norte-americanos aprontam de novo e eliminam os campeões europeus. E quando todos pensavam que a final seria apenas uma formalidade para confirmar o título brasileiro, os insistentes ianques me chegam no intervalo ganhando por sólidos 2x0! Por fim, quando todos (que não acertaram uma nessa Copa das Confederações) já se conformavam com o equídeo listrado, o Brasil reage e vira a partida.

Como bem se sabe, torcedor é um bicho insaciável. Depois de ser brindado com essa avalanche de jogos fantásticos, ele só pensa em ter mais. Não há, dentre eles, uma única alma consciente capaz de assumir que sua cota de Jogos do ano (definição em breve) já foi preenchida faz tempo e que, mesmo se todos os jogos do planeta até Dezembro próximo forem peladas piores que a pré-classificatória do Desafio ao Galo, não haverá motivo para reclamar. Não, tudo o que essa overdose de futebol Classe A fez foi elevar as expectativas para os jogos porvir.

Eis porque Corinthians e Cruzeiro terão suas indicações ao Hall of Shame de 2009 ratificadas. Como é que a final da Copa do Brasil e a semifinal da Libertadores podem acabar antes dos 35' do primeiro tempo? Depois de toda a expectativa criada, do DVD-dossiê com erros de arbitragem, das acusações de racismo e das campanhas da torcida gaúcha na esperança da virada, tudo o que tivemos foi um aperitivo, uma amostra de como poderia ter sido bom. 15, 20 minutos de luta pela vida, seguido dos outros 70 ou 75 de briga por uma morte honrosa. Mesmo a honra tendo tanto peso nos pampas, foi como começar vendo uma luta de gladiadores no Coliseu e acabar com o Telecatch na TV.

O que Corinthians e Cruzeiro precisam aprender é que futebol é entretenimento. Pelo menos quando o meu time não joga.

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