sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Agruras da transmissão esportiva no Brasil

Ando ruminando sobre o assunto desde a final da Libertadores de 2009 e agora, com a confirmação da aquisição dos direitos de transmissão para o Brasil da Liga dos Campeões pela Globo, o gancho apareceu de novo. Para quem não sabe ou não lembra, a final do maior torneio das Américas aconteceu entre Cruzeiro e Estudiantes de La Plata e não teve transmissão ao vivo por TV aberta para São Paulo. A Globo, detentora dos direitos de transmissão, optou por passar Flamengo x Palmeiras, usando como argumento a baixa audiência da final de 2008, entre Fluminense e LDU. Pois bem, houve uma grita generalizada no meio, condenando a opção pelo IBOPE em detrimento do jornalismo. E aproveitando o ensejo, muita gente desceu a lenha na emissora por mágoas futebolísticas antigas, como o ufanismo das transmissões, o puxa-saquismo dos times de maior torcida de RJ e SP e a falta de conhecimento de futebol internacional.

Tenho um amigo publicitário que diz que se você não gosta de alguma coisa na TV é porque ela não foi feita para você. Ou seja, a Globo só faz esse populismo barato porque tem gente (e muita) que gosta e consome. A minoria que não gosta devia brigar para que o seu 'produto' (leia-se uma transmissão menos ufanista e marketeira) continuasse existindo, não para que o outro produto vire o seu. O consumidor não pode exigir que o Kuat vire Guaraná Antarctica, mas pode só comprar o Guaraná Antarctica.

O problema dessa teoria é que a Globo vem tendo um comportamento que é uma mistura de criança rica mimada com o Nada da História Sem Fim: vai engolindo tudo que tem em volta e não deixa ninguém mais brincar porque a bola é sua. Tudo em nome da audiência e da guerra contra o dízimo da Record. Eis a questão: como consumir outro produto se não há concorrência? A coisa aqui é mais profunda, pois a emissora carioca gosta de desafiar os limites da lei contra monopólios - já tendo sido inclusive punida por isso.

Ainda assim, é caso de se revoltar e fazer vudu com a Vênus platinada? No meu entendimento, NÃO! É caso de brigar com os donos do produto, que vendem seus direitos de transmissão com cláusulas de exclusividade absurdamente permissivas. É caso dos patrocinadores reclamarem que o produto está sendo desvalorizado por esse comportamento IBOPE-oriented e exigirem que isso não se repita. Afinal, a transmissão é apenas o distribuidor e não o produto em si. Se a Imbev resolver colocar gengibre na fórmula do Guaraná para combater um hipotético crescimento do Kuat com chá verde, não vai adiantar reclamar com o dono do bar.

O duro é que os donos do produto - clubes e federações - ainda não entenderam que o consumidor final não é a TV e nem os patrocinadores. É o torcedor. Ou talvez até tenham entendido, mas não tem lá muito interesse em mudar o status quo. Resultado: o produto futebol vem perdendo audiência há algum tempo e todo ano a Globo ameaça tirá-lo da grade.

E quer saber? Talvez a melhor coisa para o futebol brasileiro seja repassar o produto às TVs menores. Quem sabe não volta o tempo em que cada canal passava um jogo diferente.

Um comentário:

  1. Olá Mion.

    Cara, com todo o respeito, chupei seu post lá pro meu blog:
    http://sinosdobram.wordpress.com/2009/08/17/transmissao-esportiva-no-brasil/

    Eu já tinha planejado fazer um post sobre transmissão esportiva e seu texto veio a calhar, embora conte com um enfoque diferente do meu.

    O texto que eu coloquei compara as nossas (soporíferas) mesas-redondas com o Match of the Day, transmitido pela BBC:
    http://sinosdobram.wordpress.com/2009/08/18/match-of-the-day/

    See ya guy.

    Fabio M

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