sábado, 20 de junho de 2009

Punição divina

Os deuses do futebol são entidades curiosas. Diferente de seus pares divinos, não ficam incessantemente buscando adoração ou sacrifícios de seus fiéis - sim, aquela história de jogar no sacrifício é manha de jogador chinelinho. Não, os deuses da bola são discretos e fazem questão de aparecer o menos possível.

Com eles também não tem esses maniqueísmos bestas de certo ou errado, ético ou antiético, moral ou imoral. Eles consideram igualmente o time do convento de Calcutá e a seleção alemã da década de 1940, sem juízo de valor. Para eles, futebol não se mistura com justiça (apesar do STJD insistir no contrário) e o importante é o que acontece dentro das quatro linhas, bem como as decisões e ações que tem influência direta no rendimento do time. Sabe aquele craque que não treina, só quer sabe de balada e na hora do jogo nega fogo? Esqueça as justificativas do preparador físico e os palpites aleatórios dos jornalistas. A explicação é uma só: castigo divino.

Claro que não é qualquer ofensazinha que gera uma punição nesse nível. É verdade que eles se irritam com times que tem como principal jogada a bola aérea e fazem 90% dos cruzamentos no primeiro pau, na cabeça do zagueiro adversário, assim como têm urticária com times que deixam seu melhor jogador no banco de um jogo decisivo, mesmo quando ele não está em boa fase, além de não verem com bons olhos jogadores que não dão um chute decente ao gol adversário, mesmo jogando em casa e precisando ganhar. Mas nada disso é o suficiente para que eles, por exemplo, joguem um raio no Centro de Treinamento do time, na cabeça do preparador físico.

Porém, apesar da leniência com que tratam seus fiéis, as divindades ludopédicas também têm sua linha de tolerância zero e cruzá-la é mais fácil do que parece. Uma das maneiras é dar um pontapé no joelho do adversário quando já se tem um amarelo no mesmo jogo decisivo supra-citado. Certeza de incorrer na ira divina e de ir para o chuveiro mais cedo. Outra maneira é fazer um primeiro tempo ridículo e se revoltar ao ser substituído no intervalo. Não há coração combalido que desculpe ou justifique. Outra ainda é apelar para a violência quando o jogo já está praticamente perdido, o que também ofende às divindades menores do fair play, além de ser muito feio.

Aos transgressores está reservado o 12º cículo do inferno, junto com as torcidas organizadas e os cartolas corruptos.

Um comentário:

  1. Grande Mion. Obrigado pela força e pelos elogios. Sinta-se em casa lá como eu me sinto cá.

    Abraços.

    Fabio M

    ResponderExcluir