sexta-feira, 17 de abril de 2009

Dois passos e pára

Resumo - técnica popularizada no Brasil por Emerson Leão (creio que foi inventada por Lev Yashin, mas não tenho certeza), consiste em avançar em direção ao atacante para fechar o ângulo e parar para firmar os pés antes que ele defina a jogada com um drible ou um chute. É o que existe de mais eficiente na arte de enfrentar atacantes cara-a-cara.

Situação inicial - quando o atacante sai na cara do gol, ele tem a faca, o queijo, o sacarrolha e um Sauvignon Blanc na mão. A bola está dominada e o único defensor entre ele e o gol é o goleiro. Claro que a defesa está por perto, pronta para dar o bote, mas ele tem tempo suficiente para escolher a melhor jogada e executá-la antes que se possa fazer alguma coisa. Pode parecer que sua situação é confortável, mas ele está pressionado - experimenta segurar uma faca, um queijo, um sacarrolha e uma garrafa de vinho mantendo tudo longe daquele seu amigo bebum e morto de fome (sugestão: se nessa situação você quiser chutar algo no gol, que seja o queijo. Ou seu amigo).

Fundamentos - se o goleiro ficar embaixo das traves, o atacante praticamente tem um penalti a seu dispor, razão pela qual ele sai em direção ao adversário para fechar o ângulo do chute. Porém, um goleiro em movimento tem muito menos chance de defender do que um parado, com os pés plantados em paralelo e posicionado para defender. Dessa forma, o goleiro deve se aproximar do atacante sorrateiramente, aproveitando sua distração com os zagueiros, a torcida e as câmeras, tomando posição ao menor indício da conclusão. Mais ou menos como os fantasmas no castelo do Super Mario, que só se mexiam quando os encanadores italianos não estavam olhando. Geralmente, o máximo que um goleiro consegue é dar dois passos em direção ao atacante antes que ele perceba o movimento e tente definir a jogada, donde advém o nome da técnica.

Clímax - goleiro e atacante estão frente a frente, numa disputa de habilidade e frieza em que qualquer detalhe pode ser decisivo. A torcida e os demais jogadores ficam naquele silêncio que antecede a explosão de comemoração, seja do gol ou da defesa. O ambiente é pesado e a tensão no ar é o melhor aliado do goleiro contra a bola, o queijo, a faca, o sacarrolhas e o Sauvignon Blanc do atacante. Se for um centroavante experiente, com faro de gol e frieza dentro da área, nada disso vai importar muito e tudo vai depender da atuação do goleiro. Mas se a bola sobra na cara do gol no pé de um zagueiro, dá até para ver as gotas de suor frio emanando da sua fronte.

Desenlace - independente dos detalhes do lance e da posição do atacante adversário, o que realmente conta na hora H é a destreza do goleiro e seus reflexos. Se ele conseguiu dar os dois passos e parar antes da conclusão, suas chances de defesa já são mais reais e palpáveis. Se o atacante for do tipo vamos-acabar-logo-com-isso, vai tentar concluir com um rápido e indolor chute. Se for sádico, deve tentar um drible para concluir no gol vazio. Se for covarde (só o atacante do adversário. O do nosso time é altruísta), vai evitar confrontar o goleiro, tocando a bola para um companheiro livre fazer o gol. Mas em toda e qualquer opção, a maestria e a galhardia do goleiro é que definirão se haverá um final feliz, com a bola se aninhando em seus braços ou se perdendo pela linha de fundo, ou se será ouvido o triste som dela batendo no fundo das redes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário