sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Prólogo

Ladeira Porto Geral.

4h28

Alheia ao agito da vida noturna do centro da cidade, a região da rua 25 de Março ressona tranquilamente, curtindo o sossego do final da madrugada. O único movimento visível vem de trás de uma caçamba, onde um gato vadio se espreguiça languidamente e sai à caça da sua refeição da madrugada.

Sob a tênue iluminação dos postes, dois boêmios surgem cambaleando dos lados da Praça da Sé. Aparentando um teor alcoólico considerável, os companheiros percorrem um breve trecho da 25 entre tropeções e risadas, parando ao lado de um poste no sopé da Ladeira Porto Geral. Pressentindo o perigo, o intrépido felino desiste de sua empreitada e busca refúgio no beco mais próximo.

Conduzido por seu colega, o mais alto dos boêmios se senta na soleira de uma loja. Em seu rosto, um esgar, misto de dor e medo. Lentamente, como se lutasse contra o sono, recosta a cabeça no batente da porta e fecha os olhos.

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8h23

Seu Geraldo chega à Ladeira Porto Geral para abrir sua loja de fantasias e encontra um bêbado encostado na porta.

- Mas que porre, hein, amigo? Não acordou nem com as marteladas dos barraqueiros aí da frente?

O bêbado continua lá, apagado.

- Bom, agora tá na hora de levantar que eu tenho que abrir minha loja.

E o bêbado quieto igual morto. Seu Geraldo dá uma cutucada no ombro dele.

- Moço! Sai daí que eu preciso trabalhar!

A situação já começa a chamar a atenção dos passantes. Seu Geraldo sacode o bêbado, que cai para frente e revela uma faca enterrada até o cabo em suas costas.

A cena que se segue parece um borrão na memória do Seu Geraldo. Ele lembra de uma mulher gritando, das sirenes da polícia e da multidão em volta da loja, mas quase nenhum detalhe.
A perícia determinou que a morte se deu entre 4 e 5 da manhã. Na entrevista para o jornal, o detetive disse que o crime tinha sido minuciosamente planejado e bem executado. Nenhuma câmera de segurança na região, nenhuma testemunha, nenhuma pista do culpado. Nos bares da região, ninguém reconheceu a foto do morto. Quando o crime foi descoberto, o assassino já estava bem longe dali.

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