Pegando um caminho alternativo, que incluía algumas dúzias de ruelas e travessas, o Audi A36 seguia paralelo à Marginal Tietê. Nenhum dos dois falara uma palavra nos últimos quinze minutos. A tensão era palpável. O negão ligou o rádio em busca de distração, mas caiu em uma emissora de notícias.
“...e o trânsito continua extremamente lento na Marginal do Tietê no sentido Castelo Branco até a Ponte das Bandeiras...”
- Acelera essa porra, china, quem sabe a gente ainda pega os caras!
Logo em seguida, o âncora do jornal chamou uma repórter para falar do assassinato brutal do sobrinho do comandante da PM, recém descoberto pela polícia com a ajuda do moto-boy de uma companhia de seguros. O negão ficou lívido enquanto a repórter descrevia as ximbicas destruídas, o cadáver do boyzinho e o carro em que eles agora estavam, dizendo que toda a polícia das Zonas Norte e Leste havia sido mobilizada para encontrar os meliantes em fuga.
- Não podemos mais ficar nesse carro – disse sabiamente o coreano – Vamos parar no Tietê e pegar o metrô.
- Mas e o gringo? – perguntou estupefato o negão.
- Vamos fazer o mesmo que a polícia, honorável colega.
Sacou o celular do boy, discou um número e passou a descrição minuciosa do carro perseguido e de seus passageiros, pedindo que fosse divulgada entre os outros membros do grupo sem demora.
Alguns minutos depois, o coreano entrou no estacionamento do Terminal Rodoviário do Tietê, parando na primeira vaga que encontrou. Os dois desceram do Audi e por pouco não foram atropelados por uma Brasília azul-calcinha que dava ré para sair da vaga de deficiente físico.
Xingando o motorista, o negão e o coreano entraram no Terminal e se dirigiram à bilheteria.
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Durante o restante do trajeto, o homenzinho continuara com seu mutismo enervante, apesar das insistentes perguntas de Longdon. Para onde estamos indo? Quem era o negão que apontou o revólver para ele? Estamos chegando? Por que aquilo ali chama Center Norte? Ou é north ou center, right?
Após mais meia hora enroscados no trânsito, tempo no qual eles consumiram todas as provisões compradas, o Monza finalmente parava na faixa de desembarque do Terminal Rodoviário do Tietê. Longdon hesitou um pouco, mas, vendo que o homenzinho havia desligado o motor, pegou sua mala e desceu. Assim que pôs o pé na calçada, foi prontamente abordado por um garoto de seus 12 anos, esfarrapado e sorridente.
- Deixa que eu carrego, tio!
Mas antes que ele se apoderasse da bagagem do americano, o homenzinho desceu do carro.
- Pode deixar, rapaz, eu levo.
- Então me dá um trocado, tio. Pra ajudar a alimentar minha mãe e meus cinco irmãos menores...
- Tou sem trocado, mas – jogando a chave do Monza para ele – fica com ele pra você...
O garoto olhou para o carro de cima a baixo e fez uma careta.
- Não tem nem uma moedinha mesmo, tio?
Dando de ombros, Longdon e o homenzinho entraram no Terminal e se dirigiram à bilheteria.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
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