terça-feira, 13 de outubro de 2009

Capítulo 9

Do meio da massa de passageiros, sacolas e guarda-chuvas, dois coreanos e um saco de supermercado foram expelidos de uma van prateada no meio fio da Praça da Sé. Um deles recolheu o saco e o enfiou dentro do casaco, olhando em volta a procura de pedestres curiosos demais. Ninguém notara a faca ou a camisa ensangüentada se projetando do saco plástico. Menos mal. Encaminharam-se para a Estação São Bento do Metrô a passos largos e já estavam quase chegando quando seu celular tocou.

- Alô...sim...baixinho de bigode e gringo alto...mala na mão...vivos? Mais fácil...ok...a Liberdade é nossa.

Fez um sinal para que seu companheiro fosse na frente. Era preciso retransmitir a mensagem antes de entrar no Metrô e perder completamente o sinal. Discou o número, ‘Send’ e aguardou.

- Alô...sim...são dois, um baixinho de bigode e um gringo alto...mas atenção! Todos os acessos devem ser vigiados!

Fechou o telefone e saiu em direção à estação. Isso seria difícil, mais difícil que o cearense no beco sórdido. Teriam que agir com discrição, já que os alvos provavelmente estariam esperando um ataque.

Não tinha medo do americano famoso, mas intimamente torcia para que eles desembarcassem em outra estação. Não gostava da Liberdade, com aquele monte de japoneses em volta. Sentia-se descoberto, óbvio, tão destacado na multidão quanto se estivesse de verde no meio da Gaviões. Felizmente, já era quase nove da noite e os trens não estavam mais tão lotados, mas ainda assim a Liberdade lhe causava calafrios.

Seu companheiro o aguardava ao lado da catraca. Em poucos minutos, estavam amontoados no vagão, chacoalhando no sentido Jabaquara.

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