quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Capítulo 10

Ao checar a carteira, o homenzinho notou que só tinha mais um bilhete de metrô e se encaminhou à bilheteria para adquirir outro. De repente, ele parou, com um leve tremor no bigode e uma expressão anuviada no rosto. Longdon quase tropeçara em seu diminuto guia e, intrigado, procurou a causa dessa inesperada demonstração de emoção. Examinou com atenção a vending machine de livros de bolso bem na sua frente e, com sua perspicácia habitual, notou que o homenzinho parecia olhar fixamente para um livro chamado “Você é do Tamanho dos Seus Sonhos”. Realmente, o título era insensível e de extremo mau gosto. After all, pensou, quem tem mais direito aos grandes sonhos que os pequenos homens?

O homenzinho, no entanto, estava mais preocupado com o negão na fila da bilheteria, que conseguira ver pelo reflexo do vidro da vending machine. Pegou Longdon pelo braço e o arrastou em direção às catracas, tentando se misturar à massa. Chegando lá, empurrou o professor catraca adentro e passaram ambos com um só bilhete sem maiores incidentes, embora Longdon tenha ficado ligeiramente contrariado por ter sido ele a passar na frente.

O pequeno guia pegou novamente Longdon pelo braço e o conduziu para dentro da multidão. Estavam quase chegando à escada rolante que os levaria à plataforma de embarque quando ouviram alguém gritando “Ó lá os cara, china!”. Longdon olhou para trás e viu o negão apontando diretamente para eles. Aterrorizado, olhou para baixo e viu o trem parado na plataforma, desembarcando milhares de passageiros. Se pudessem pegá-lo, talvez conseguissem escapar!

Porém, na sua frente, uma multidão preenchia completamente as escadas, tanto a rolante quanto a normal, impedindo a passagem rápida. Se eles seguissem a fila, com certeza não conseguiriam embarcar. Seus perseguidores haviam passado da catraca e se aproximavam cada vez mais. O negão abria caminho no meio da multidão como um tanque. Não parecia haver solução possível. O cérebro de Longdon maquinava furiosamente, mas até o momento, sua melhor idéia tinha sido gritar “Piques!” e encostar na parede. Já estava a ponto de colocá-la em prática quando o homenzinho pegou sua mala, colocou-a no corrimão e pulou em cima, acenando para que ele o seguisse.

Os dois escorregaram corrimão abaixo como se fosse um tobogã e aterrissaram ao lado da lata de lixo. Ainda meio atordoado, Longdon viu que as pessoas na plataforma começavam a entrar no vagão. Olhando para cima, viu que seus perseguidores tinham acabado de chegar no alto da escada e se preparavam para escorregar também. Longdon pegou sua mala e correu atrás do homenzinho em direção ao trem.

Estavam no meio do caminho quando viram as portas começando a se fechar. Atrás deles, um barulho metálico indicava que seus perseguidores já haviam escorregado e derrubado a mesma lata de lixo na aterrissagem. Sentindo uma onda de pânico, Longdon arremessou sua mala em direção à porta, na esperança de travá-la aberta como nos filmes do Jet Li que ele tanto gostava. Contudo, um ligeiro erro de cálculo fez com que ela se esborrachasse no chão do vagão, se abrindo e espalhando suas roupas, livros e objetos pessoais em cima dos outros passageiros.

Os dois entraram no trem logo depois da mala, esbaforidos. As portas estavam quase fechadas e seus perseguidores ainda estavam alguns metros atrás. Longdon estava com o coração na boca, mas exultava. Tinham conseguido! E quando ele pensava finalmente estar em segurança, o negão deu um carrinho em direção à porta e conseguiu travá-la com o pé! Deixando de lado sua dignidade de professor de Harvard, Longdon se agachou e, em um esforço sobre-humano, tentou empurrar aquele Nike Shox tamanho 46 de volta pela fresta da porta.

Foi uma luta hercúlea, Longdon contra o pé do negão. Pela fresta, em meio às gotas de suor que brotavam profusamente em seu rosto, ele viu seu inimigo estendendo a mão para dentro do casaco em busca da arma. A esperança começava a abandonar o pacato professor, quando o homenzinho pegou uma saboneteira do Boston Red Sox que havia caído da mala e a atirou porta afora, acertando a testa do negão. Inspirado por tão certeiro arremesso, que o lembrou de seus gloriosos dias de quinto reserva no Harvard Baseball Team, nosso herói empurrou o agora flácido pé para fora e desabou de costas para a porta, sem fôlego.

Lentamente, o trem começou a acelerar, deixando para trás a estação Tietê do metrô.

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